O globo, n. 31173, 12/12/2018. País, p. 7

 

PF diz que Aécio comprou apoio de legendas

Bela Megale

Aguirre Talento

Mateus Coutinho

12/12/2018

 

 

Operação cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do senador e de aliados para apurar suspeita de repasse de R$ 110 milhões para PSDB, PTB, Solidariedade e DEM na campanha de 2014

A Polícia Federal (PF) deflagrou ontem uma operação que atingiu o senador e deputado federal eleito Aécio Neves (PSDB-MG), suspeito de ter captado ilicitamente R$ 128 milhões do grupo J&F para a compra de apoio de partidos políticos.

Batizada de Ross, a ação cumpriu mandados de busca e apreensão em imóveis do tucano em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, além de outros alvos ligados a Aécio.

Para a PF, o tucano liderou uma organização criminosa cujo objetivo foi comprar apoio à sua campanha presidencialde2014.A partir da delação da J&F, dona da JBS, a PF rastreou que o tucano usou R$ 65 milhões para diretórios e políticos do PSDB, incluindo ele próprio, e repassou R$ 20 milhões para o PTB, R$ 15 milhões ao Solidariedade, R$ 2 milhões ao DEM e R$ 8 milhões a candidatos avulsos de diversos partidos.

Por causa desses repasses, também são alvo da investigação da PF os deputados Benito Gama (PTB-BA), Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Paulinho da Força (SD-SP), além dos senadores Antonio Anastasia (PSDB-MG) e Agripino Maia (DEM-RN).

No pedido, o delegado da PF Bernardo Guidali Amaral diz que os recursos foram repassados com estratégias de lavagem de dinheiro, “seja pela realização de doações eleitorais oficiais, por meio da simulação da prestação de serviços e emissão de notas fiscais fraudulentas, pela utilização de doleiros para a realização de entregas em espécie e depósitos em contas correntes de pessoas físicas, ou ainda pelo emprego de supermercados para a realização de entregas em espécie”.

A PF solicitou a suspensão dos mandados e o recolhimento noturno de Aécio, Benito Gama, Cristiane Brasil e Paulinho da Força, mas a solicitação não teve a concordância da Procuradoria-Geral da República (PGR) e também não foi aceita pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, relator do caso.

Citados negam

Em sua decisão, Mello apontou que existem “indícios de relação ilícita” entre Aécio e executivos da J&F, mas afirmou que não havia demonstração concreta de que a plena liberdade do tucano representa risco à ordem pública.

Nem o gabinete parlamentar nem o imóvel funcional de Aécio foram vasculhados pelos investigadores porque não houve autorização do ministro do STF.

A PF foi até o imóvel funcional entregar uma intimação para que Aécio fosse ouvido hoje. Ele se recusou a prestar depoimento ontem, mas chamou a imprensa para um pronunciamento:

— Sempre estive à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos. Não podemos mais aceitar que delações de criminosos confessos e suas versões se sobreponham aos fatos. O que estamos tratando nesse inquérito? De doações à campanha eleitoral. Doações feitas em 2014 de forma legal, registradas na Justiça Eleitoral, aprovadas por esta mesma Justiça Eleitoral, sem absolutamente qualquer contrapartida.

Além de Aécio, Paulinho, Agripino, Benito Gama e Cristiane negaram irregularidades, por meio de nota. Paulinho afirmou que a acusação “beira o ridículo” e que o partido já apoiava o tucano desde 2013. A defesa de Cristiane Brasil disse que a PF está buscando incriminar uma atitude política, porque naquele ano era permitida a doação eleitoral de empresas privadas.Agripino disse que seguiu a legislação e Anastasia negou as acusações. 

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Para Tasso, senador 'já prejudicou muito o partido'

Amanda Almeida

Dimitrius Dantas

12/12/2018

 

 

Ex-presidente do PSDB diz que, se a mesada for verdadeira, ‘caso é muito grave’; tucanos discutiram sobre Aécio no Senado

Ex-presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) disse ontem que o seu colega Aécio Neves (PSDB) “já prejudicou muito o partido”. O caso do senador tucano — alvo da Operação Ross, que investiga a emissão de notas frias para o pagamento de propina da JBS para ele e seu grupo — foi tratado brevemente em almoço da bancada do PSDB no Senado.

Aécio não foi à reunião. Sem informações detalhadas sobre o assunto, os senadores demonstraram preocupação com a situação do correligionário.

— Se essa mesada (a Aécio) for realmente verdadeira, é uma questão muito grave. Ele já prejudicou muito o partido — disse Jereissati.

As investigações apontam suposta mesada de R$ 50 mil mensais paga a Aécio pela JBS por meio da rádio Íris, de propriedade da família do senador.

Questionado sobre a possibilidade de Aécio ser levado ao conselho de ética do partido, Tasso disse que não está mais na direção do PSDB, mas que é preciso pensar numa solução para o caso.

Tasso assumiu a presidência da sigla interinamente no ano passado, depois de Aécio se licenciar em meio às acusações de ter recebido propina da JBS. Mais tarde, após novas denúncias, o mineiro deixou o comando do partido em definitivo.

Doria longe da polêmica

Presente no almoço, o senador Antonio Anastasia (PSDB) negou qualquer envolvimento com os crimes investigados. Um mandado de busca e apreensão contra ele chegou a ser pedido, mas foi negado.

O governador eleito de São Paulo, João Doria, afirmou ontem que aguardará a finalização das investigações sobre Aécio antes de opinar sobre o futuro do tucano na sigla:

— Vamos aguardar a conclusão das investigações. Toda investigação deve ser colocada em prática, não deve ser inibida, mas deve ser concluída. Ao ser concluída, aí sim nós nos manifestaremos.