O globo, n. 31171, 10/12/2018. País, p. 4

 

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André de Souza

Bruno Góes

10/12/2018

 

 

Bolsonaro anuncia 22º ministro e fecha lista, que privilegia militares e bancadas temáticas

Depois de 35 dias de transição, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, concluiu neste domingo a montagem do seu primeiro escalão ao anunciar o 22º ministro da equipe: o futuro chefe do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles. A pasta, inicialmente marcada para ser fundida com a Agricultura, acabou mantida por Bolsonaro, depois de seguidos alertas de especialistas, que enxergaram numa eventual fusão o estopim para conflitos de interesse.

O corpo ministerial de Bolsonaro tem nove nomes de perfil técnico, seis militares e sete políticos, alguns do baixo clero da Câmara ou figuras da cota pessoal do presidente, como o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. São sete ministérios a menos do que o número atual, com a fusão ou extinção de pastas, como o ministério do Trabalho, cujas atribuições serão divididas.

Pela primeira vez em seguidos governos, desde a redemocratização, nenhum integrante do Senado ocupará um ministério no Executivo. Entre os técnicos, dois podem

vir a perder o status de ministro futuramente — Banco Central e Advocacia Geral da União — após mudanças legislativas.

Como fez em quase todos os anúncios ministeriais, Bolsonaro apresentou o nome do futuro chefe do Meio Ambiente pelas redes sociais. “Comunico a indicação do Sr. Ricardo de Aquino Salles para estar à frente do futuro Ministério do Meio Ambiente”, escreveu ontem no Twitter.

Foco nas bancadas

A Esplanada do futuro presidente, que será diplomado nesta segunda-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi composta a partir do que Bolsonaro chamou de “novas práticas” de se fazer política. No lugar de negociar postos no governo com caciques partidários, como fizeram Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer, Bolsonaro loteou seu primeiro escalão com militares, técnicos e indicados políticos das chamadas bancadas temáticas do Parlamento, que se agrupam por área de interesse.

Cruciais para o sucesso do futuro governo, a segurança pública, o combate à corrupção e o resgate da economia foram entregues ao ex-juiz Sergio Moro e ao economista Paulo Guedes.

Mesmo tentando se distanciar do lobby de partidos políticos, Bolsonaro não escapou das pressões políticas em algumas escolhas. Quando aliados divulgaram, por exemplo, que o futuro chefe da Educação poderia ser o diretor do Instituto Ayrton Senna Mozart Ramos, o presidente eleito enfrentou a fúria da bancada evangélica. Diante dos protestos, Bolsonaro anunciou o colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Vélez Rodríguez para o MEC.

A escolha de Vélez foi justificada mais tarde por dois detalhes do seu currículo: o fato de já ter sido professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército e de contar coma simpatia do escritor Olavo de Carvalho, uma espécie de guru de Bolsonaro.

A “atuação” de Carvalho na montagem do governo também revelou o estilo improvisado de Bolsonaro ao recrutar aliados. O simples fato de contar com a simpatia do guru do presidente foi suficiente para que o embaixador Ernesto Araújo se tornasse o chefe do Ministério das Relações Exteriores.

— Eles leem as coisas que eu escrevo e levam a sério — disse Olavo ao GLOBO, explicando o motivo de ter “nomeado” dois ministros no governo Bolsonaro.

Uma série de recuos no discurso do presidente eleito também esteve na origem da formação do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, entregue à pastora Damares Alves. A pasta de Damares, a exemplo do Meio Ambiente, teria outra configuração, mas foi tomando forma a partir das dificuldades de Bolsonaro em conseguir fechar ministérios.

Com o time formado, o presidente eleito terá agora um desafio bem mais complicado. Redistribuir um orçamento curto para tantas demandas urgentes do país. A proposta de orçamento encaminhada pelo governo para 2019 prevê rombo de R$ 139 bilhões nas contas públicas e as menores despesas discricionárias desde 2009.

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Ex-secretário de Alckmin, antipetista e denunciado por improbidade

Aline Ribeiro

Sérgio Roxo

Rayanderson Guerra

10/12/2018

 

 

Nome preferido dos ruralistas e do setor produtivo para assumir o Ministério do Meio Ambiente, o advogado e administrador Ricardo de Aquino Salles foi secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo de 2016 a 2017 e secretário particular do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Atualmente, ele preside o movimento Endireita Brasil.

Salles foi candidato a deputado federal pelo Partido Novo este ano, mas não se elegeu. Na campanha, defendeu o uso de armas contra a esquerda, o MST e “a bandidagem no campo” .

Sem histórico de atuação na área ambiental, Salles foi nomeado no governo Alckmin em troca de apoio do PP à candidatura de João Doria à prefeitura.

Nas redes sociais, se apresenta como entusiasta do antipetismo e crítico dos defensores dos direitos humanos. Num de seus artigos, afirma que “o politicamente correto amordaçou o brasileiro” e que debates sérios sobre segurança e educação foram substituídos “por assuntos fabricados por ONGs e meio artístico: da legalização da maconha a banheiro unissex”.

O ex-secretário foi denunciado pelo Ministério Público (MP) paulista por improbidade administrativa. Ele teria atuado para a adulteração de mapas do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Várzea do Rio Tietê com o objetivo de beneficiar setores econômicos. O valor da ação é de R$ 50 milhões.

O GLOBO não conseguiu contato com Salles nem com sua defesa. À revista Globo Rural, o futuro ministro se defendeu e afirmou que as duas decisões liminares da Justiça foram favoráveis a ele.