Correio braziliense, n. 20261, 10/11/2018. Política, p. 3

 

Roma, o destino de Temer?

10/11/2018

 

 

O nome do presidente Michel Temer é tratado no Ministério das Relações Exteriores (MRE) como um notório concorrente a alguma das embaixadas do imponente “Cirtuito Elizabeth Arden”. Trata-se de um caminho pelo qual poucos diplomatas conseguem percorrer ao longo da carreira. O circuito compreende as embaixadas de Nova York, Londres, Paris e Roma.

Atualmente, a embaixada de Roma é chefiada por Antonio de Aguiar Patriota, diplomata de carreira e ex-chanceler de Dilma Rousseff (PT). O posto é considerado um dos mais prestigiados do corpo diplomático brasileiro, tendo sido ocupado anteriormente por nomes importantes no serviço exterior — como Paulo Tarso Flecha de Lima, cuja esposa, Lúcia Flecha de Lima, engajou-se para restaurar o palacete onde está localizada a embaixada, na Piazza Navona.

A contar pelos últimos acontecimentos, a embaixada do Brasil em Roma terá grande participação no próximo governo. O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), se encontrou com o embaixador da Itália para definir as questões sobre a possível extradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti, acusado de terrorismo na Europa e exilado no Brasil. A escolha do próximo embaixador do Brasil na Itália será definida pelo presidente Bolsonaro. O Correio entrou em contato com o MRE, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve resposta.

Fontes do Palácio do Planalto e do MRE disseram ao jornal que é grande a chance de a história de confirmar. Segundo o especialista em relações internacionais Creomar Souza, professor da Universidade de Brasília (UnB), a imunidade dos embaixadores se estende dentro e fora do Brasil. “O que há em Brasília, neste momento, é que figuras políticas que ficaram sem cargos eletivos buscam cargos a fim de manter o foro privilegiado. O benefício se estende no Brasil e na Itália, nesse caso”.

A Presidência da República nega que Temer tenha interesse em aceitar um eventual posto na embaixada da Itália ou em qualquer outro posto diplomático. Interlocutores do presidente dizem que há dois inconvenientes na nomeação para um cargo no exterior: ele não se sentiria confortável de responder ao novo governo e, juridicamente, não haveria vantagem em manter o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). Ministros têm negado pedidos da defesa de Michel Temer. Por isso, seria mais vantajoso o processo ir para um juiz da primeira instância. (BB)

Um local histórico

A embaixada fica no Palácio Panphili, uma edificação barroca construída entre 1644 e 1650. Desde 1920, é a sede da embaixada brasileira na Itália, tornando-se propriedade da República brasileira em 1964. Ao ser restaurado em 2000, o palácio foi pintado com a cor que tinha no século XVIII.
O local tem três pátios interiores e 23 salas com afrescos de artistas famosos, como Giacinto Gimignani, Gaspard Dughet, Andrea Camassei, Giacinto Brandi, Francesco Allegrini e Pier Francesco Mola.