O globo, n. 31167, 06/12/2018. País, p. 6

 

Bolsonaro descarta Magno Malta em ministério

André de Souza

Daniel Gullino

Amanda Almeida

06/12/2018

 

 

Sem mandato a partir do ano que vem, senador do Espírito Santo disse que sua vida não depende do presidente eleito e que não guarda mágoa; logo após a eleição, ele chegou a dizer que tinha um cargo garantido na Esplanada

“Se fosse ofertar um ministério para todos os amigos que ajudaram na campanha, ficaria complicado para mim” _ Jair Bolsonaro

Um dos aliados mais próximos do presidente eleito Jair Bolsonaro durante a campanha, o senador Magno Malta (PR-ES), que não conseguiu se reeleger, foi descartado do futuro ministério. O presidente eleito afirmou ontem que Malta não será ministro porque “o perfil dele não se enquadrou”. O senador chegou a ser convidado para ser vice na chapa de Bolsonaro, mas preferiu tentar um novo mandato para o Senado.

Logo após a eleição, Malta chegou a dizer que teria um cargo garantido na Esplanada. Diante da saia justa, o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, definiu Malta como um “elefante” sem espaço, “um camelo” para o qual seria necessário “arrumar um deserto”.

— Se eu fosse ofertar um ministério para todos os meus amigos que me ajudaram na campanha, ficaria complicado para mim. Tenho uma dívida de gratidão com ele, me ajudou muito durante a campanha, mas não houve um comprometimento nesse sentido. Infelizmente, o perfil dele não se enquadrou. A questão de um possível ministério, não achamos adequado no momento. Continuo devedor, sou grato a ele. As portas da transição estão abertas. — disse Bolsonaro, em entrevista após cerimônia no quartel-general do Exército.

De volta ao Senado depois de alguns dias em uma espécie de retiro, Malta disse que não guarda mágoa do presidente eleito por não ter sido escolhido ministro de seu futuro governo.

— Minha vida não depende de Bolsonaro. Depende de Deus. Eu continuo orando para que Deus dê a ele a chance de fazer um país diferente —disse, ao GLOBO, na manhã de ontem.

Aliados de Malta atribuem sua derrota na disputa pela reeleição à dedicação que teve à campanha de Bolsonaro, deixando a sua própria em segundo plano. Na semana passada, o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, principal defensor da indicação disse que ficaria “decepcionado” caso a indicação não fosse realizada.

Inicialmente, o senador estava cotado para comandar uma nova pasta que estava sendo chamada de “Ministério da Família”. A ideia, que não se confirmou, era que essa estrutura acomodasse Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.

— Vou ser ministro, sim — afirmou ao GLOBO o senador, no início do mês passado, dizendo que caberia a Bolsonaro anunciar se realmente assumiria a área social do governo ou se ocuparia um posto mais próximo ao presidente, no caso a Secretaria Geral da Presidência. — Onde eu estiver, eu estarei perto dele. Ele vai anunciar —disse Malta, na ocasião.

Depois de preterir o senador, Bolsonaro acabou convidando uma assessora parlamentar de Malta, a pastora evangélica Damares Alves , para ocupar o posto de ministra de Direitos Humanos e Mulheres.

Na semana passada, a pastora foi até o gabinete de transição e recebeu pessoalmente o convite. Ela disse que responderia até a última terça-feira se aceitaria ou não. Em entrevista exibida na GloboNews na última segunda-feira, o senador Flávio Bolsonaro, afirmou, no entanto, que não há definição se a área dos Direitos Humanos continuará tendo status de ministério.

Planos

Ontem, Malta disse que nunca houve promessa de cargos e que entende a situação do presidente eleito:

— Ele não tem obrigação de me dar ministério ou emprego. Expectativa (de ser ministro) é uma coisa. Mas esse país tem 208 milhões de habitantes. Posso entender o fardo que ele está vivendo agora, sentado ali, enfrentando a velha política, tentando estabelecer um novo modelo, com críticas aqui e ali.

Sem cargo público, Malta pretende fazer palestras e se dedicar à carreira de cantor gospel. Ele também quer “curtir” a família, em especial duas netas.

— Vou viajar o país inteiro. Vou continuar fazendo palestra, cantando. Tenho 41 anos de carreira, 28 CDs gravados. Vivi sempre da minha música —comentou.