Correio braziliense, n. 20259, 08/11/2018. Cidades, p. 19
Ibaneis dá prioridade à segurança pública
Ana Viriato
08/11/2018
TRANSIÇÃO 2018 » Ao definir os principais nomes do setor, como o titular da pasta, o chefe da Polícia Civil e a comandante da Polícia Militar, o governador eleito acelera a composição de uma das áreas mais sensíveis do DF. Saúde e educação seguem em análise
A equipe da segurança pública do governador eleito do DF, Ibaneis Rocha (MDB), está quase completo. O emedebista anunciou, ontem, o delegado da Polícia Federal Anderson Torres como titular da pasta. O escolhido atua, hoje, como chefe de gabinete do deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR), ligado ao futuro presidente da República Jair Bolsonaro (PSL). O advogado definiu, ainda, a coronel Sheyla Sampaio no comando-geral da Polícia Militar — há 27 anos na corporação, ela será a primeira mulher a assumir o posto no DF (leia Entrevista). Resta, portanto, a oficialização dos chefes do Corpo de Bombeiros e do Departamento de Trânsito (Detran), uma vez que Ibaneis escolheu, na última semana, o delegado Robson Cândido, primeiro colocado da lista tríplice elaborada pela categoria, como diretor-geral da Polícia Civil.
O recém-anunciado secretário de Segurança Pública passou pela Polícia Civil do DF, onde trabalhou como papiloscopista e, de acordo com o governador eleito, tem bom trânsito na corporação. O nome dele foi apresentado a Ibaneis, na última terça-feira, durante uma visita de Francischini. “O deputado não disse que seria uma indicação de Bolsonaro, mas classificou como alguém que o agradaria. Como ele é homem de confiança do futuro presidente, entendi o recado. Anderson tem um ótimo currículo e reúne todas as qualidades para assumir a secretaria”, disse ao Correio.
Ibaneis fez o convite a Anderson Torres na manhã de ontem, antes de um almoço com o presidente da República, Michel Temer (MDB). Recebeu o sinal verde à noite. À tarde, enquanto guardava a indicação a sete chaves, o emedebista havia afirmado que o próximo chefe da pasta era “de extrema confiança” do futuro ministro de Justiça Sérgio Moro e de Bolsonaro.
O governador eleito acrescentou que o alinhamento com a esfera federal era preciso, “porque, no DF, o secretário tem dupla função: garantir a segurança de autoridades e da população”. “Além disso, temos notícia de facções criminosas que tentam se instalar aqui, ou seja, é necessária a integração com o Ministério da Justiça e a Presidência”, completou.
Antes de bater o martelo, Ibaneis disse que precisava conversar com o escolhido sobre “ajustes de pensamento”. “Venho de uma área humanitária. Sou ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB/DF) e dirigente do Conselho Federal da entidade. Algumas coisas são sensíveis para mim. Por exemplo, sou contrário à proibição do saidão (dos presos). Temos de aperfeiçoá-lo por meio do uso de tornozeleiras. Temos de aperfeiçoar também o sistema prisional, dando condições de trabalho e educação”, argumentou. Após o anúncio, o emedebista confirmou ao Correio que os ponteiros haviam sido acertados.
Ibaneis informou que também definiu o próximo secretário de Educação após conversas com o senador Cristovam Buarque (PPS) e representantes do Sindicato dos Professores (Sinpro). O nome deve ser anunciado até segunda-feira. Quanto à pasta da saúde, o governador eleito alegou que dialoga com integrantes do setor, porém, não escolheu um chefe. Segundo ele, o escolhido será definitivo, pois a “área não suporta novos erros nos próximos anos”.
Conflitos
Para especialistas, a escolha do secretário de Segurança Pública evitou “conflitos interinstitucionais” entre as polícias Civil e Militar. Devido à relação sensível entre as corporações, a opção por um representante da Polícia Federal tem sido a saída dos governantes para a pasta. Os policiais civis brigam pela paridade de reajuste com a Polícia Federal desde 2015. A PM também pleiteia o mesmo aumento salarial e são recorrentes os episódios de atritos entre representantes das duas forças.
Pesquisador em segurança pública pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Nelson Gonçalves acrescentou que o alinhamento do secretário com o governo federal tende a ser benéfica para o DF. “Precisamos lembrar que toda legislação que regula a segurança pública, exceto o Detran, é federal. Portanto, o Ministério da Justiça pode ser um tremendo apoiador nas demandas ou atrapalhador”, destacou.
Também da UCB, a professora Marcelle Figueira pontuou que, apesar da consonância política, o futuro secretário precisa defender uma pauta técnica distinta da apresentada por Bolsonaro. “Historicamente, todos os projetos que reduziram a criminalidade foram preventivos. Exemplo disso é o Viva Brasília/Pacto pela vida. É preciso que o novo titular mantenha propostas que deram certo nesta gestão”, analisou.
Planos e metas
O programa adotado pelo governador Rodrigo Rollemberg prevê canais de comunicação com a comunidade e reuniões de governança que identifiquem as prioridades de cada região do DF. Com isso, o GDF estabelece planos e metas a serem cumpridas. O objetivo principal é reduzir a taxa de homicídio na capital.