Correio braziliense, n. 20258 , 07/11/2018. Política, p.4
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, voltou a reconhecer Jerusalém como a capital do Estado de Israel, mas ressaltou que a anunciada transferência da embaixada brasileira para a cidade santa, alvo de protestos no mundo árabe, ainda não foi decidida. Em coletiva de imprensa, ontem, no Comando da Marinha, em Brasília, ele adotou um tom mais moderado sobre o assunto, um dia depois de o Egito anunciar o adiamento sine die (sem data) da visita que o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, faria ao país, entre os dias 8 e 11, acompanhado de uma comitiva de empresários. Autoridades do Cairo alegaram dificuldades de agenda para justificar a decisão.
“O que eu estou falando é o seguinte: para nós, não é um ponto de honra essa decisão”, disse o presidente eleito, num claro recuo na questão em torno da embaixada brasileira. “Agora, quem decide onde é a capital de Israel é o povo, é o Estado de Israel. Se eles mudaram de local...”, afirmou, embora a capital israelense continue sendo Tel Aviv.
Durante a entrevista, Bolsonaro tentou minimizar a decisão do Egito de não receber a visita do chanceler Aloysio Nunes e disse inexistir motivo para represália. “Pelo que eu ouvi dizer, é questão de agenda. Agora, eu acho que seria prematuro um país anunciar uma retaliação em função de uma coisa que não foi decidida ainda”, ressaltou.
Na primeira semana após a vitória nas eleições presidenciais, Bolsonaro causou um estremecimento na relação do Brasil com alguns países ao anunciar os planos para a política externa de seu governo. Ao defender a transferência da embaixada brasileira em Israel, por exemplo, ele atraiu a ira do lado palestino, que reivindica Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado.
Bolsonaro tem buscado um alinhamento com os governos de Israel e dos Estados Unidos em relação aos conflitos no Oriente Médio. Em dezembro de 2017, o presidente Donald Trump anunciou o reconhecimento de Jerusalém como capital israelense e a transferência da embaixada dos EUA de Tel Aviv para a cidade santa. A nova sede da representação diplomática americana foi inaugurada em maio, em meio a protestos que causaram a morte de mais de 50 palestinos, durante confrontos com forças israelenses na Faixa de Gaza. Além dos EUA, apenas a Guatemala efetivou a transferência de sua embaixada para Jerusalém.
Na entrevista, o presidente eleito também comentou sobre a China, cujo governo alertou, na semana passada, que o Brasil sofrerá as consequências se a opção, em 2019, for a de seguir a linha Trump e romper acordos com Pequim. Foi a resposta à proposta de Bolsonaro de reduzir a participação do país oriental no setor energético brasileiro.
“A questão da China já está mais do que explicada. Eu falei que não podemos continuar fazendo negócios com o mundo todo com viés ideológico. A gente não quer nem direita nem esquerda. Negócio é negócio, e pretendemos fazer com o mundo todo”, afirmou Bolsonaro. Ele utilizou esse mesmo argumento para anunciar que pretende romper relações com Cuba, outra nação comunista.
O presidente eleito adiantou que o ministro das Relações Exteriores de seu governo será escolhido entre diplomatas de carreira do Itamaraty. “É alguém de lá, do Ministério das Relações Exteriores. Não vamos improvisar. Temos alguns nomes, mas ainda outros podem aparecer.”