Título: Espanhóis contra o arrocho
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Fonte: Correio Braziliense, 14/07/2012, Economia, p. 18/19
Apesar da rejeição de grande parte da população, o Conselho de Ministros aprova o novo pacote de ajuste de 65 bilhões de euros
Madri — O governo espanhol aprovou ontem a bateria de medidas anunciadas na quarta-feira pelo primeiro-ministro, Mariano Rajoy, para economizar 65 bilhões de euros até o final de 2014, que inclui uma reforma da administração e uma alta do principal tributo, o IVA, a partir de setembro. No entanto, a onda de manifestações contra o novo pacote de austeridade ganhou intensidade. Ontem, funcionários públicos das principais cidades espanholas saíram às ruas para protestar contra o corte de programas governamentais e a redução de seus vencimentos.
"A Espanha atravessa um dos momentos mais difíceis e traumáticos de sua história recente", afirmou a porta-voz do governo, Soraya Saénz de Santamaría, para justificar o drástico plano de ajuste, após o semanal do Conselho de Ministros que ratificou as medidas. A taxa geral do IVA passará de 18% para 21%, enquanto que a alíquota reduzida, aplicada a alguns setores, como o turismo, subirá de 8% para 10%. O pacote prevê ainda o fechamento de órgãos públicos e a suspensão do abono de Natal dos servidores.
Na capital, os protestos ocorriam diante de diferentes edifícios da Administração Pública. Aproveitando a meia hora de descanso a que têm direito por dia, os funcionários públicos manifestavam sua rejeição às medidas entre assobios, apitos e gritos contra o governo regional de Madri e o governo central espanhol. "Cada vez cortam mais o nosso salário", afirmou Nuria Rodríguez, de 35 anos e funcionária regional. Com contrato de trabalho provisório, ela perderá seu emprego em setembro e disse que terá dificuldades para sustentar os dois filhos, já que o marido foi atingido por uma demissão coletiva na empresa em que trabalhava. Bombeiros e policiais estavam entre os manifestantes.
Fundo regional O Conselho de Ministros aprovou também a criação de um fundo de até 18 bilhões de euros para ajudar as regiões autônomas da Espanha, que estão com dificuldade de cumprir suas obrigações financeiras. "O fundo, sem caráter jurídico, irá suprir o Tesouro espanhol para ajudar as comunidades autônomas a se financiarem", disse o ministro de Economia, Luís De Guindos.
Parte do dinheiro virá de um empréstimo oriundo da entidade Loterias do Estado (6 bilhões de euros) e o restante será financiado pelo Tesouro, explicou o ministro. A adesão ao fundo será voluntária, mas, para ter acesso aos recursos, as regiões terão que adotar planos de ajuste orçamentário rigorosos, prevendo inclusive a possibilidade de intervenção do Estado em caso de descumprimento dos compromissos assumidos. Segundo De Guindos, a fragilidade fiscal de muitas regiões é um dos fatores que fragilizam a economia espanhola.