Correio braziliense, n. 20274, 23/11/2018. Política, p. 2

 

Um filósofo na Educação

23/11/2018

 

 

GOVERNO EM TRANSIÇÃO » O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anuncia o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez para comandar a pasta. Futuro ministro é crítico do PT e do Enem e tem afinidade com o movimento Escola sem Partido

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou, na noite de ontem, pelas redes sociais, que o professor colombiano Ricardo Vélez Rodríguez será o próximo ministro da Educação. Crítico do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e simpático ao Escola sem Partido, ele é professor-colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

“Gostaria de comunicar a todos a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo autor de mais de 30 obras, atualmente professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, para o cargo de ministro da Educação”, escreveu Bolsonaro no Twitter.

A indicação do professor ocorreu um dia depois de a bancada evangélica vetar o educador Mozart Neves, diretor do Instituto Ayrton Senna, para o cargo. Ele era crítico do projeto Escola sem Partido, uma das principais bandeiras do presidente eleito.

À tarde, Bolsonaro se reuniu por três horas, na Granja do Torto, com o procurador regional do Distrito Federal, Guilherme Schelb, que também era cotado para o cargo. Ao deixar o local, Schelb também admitiu ter apoio “muito significativo” da bancada evangélica e reafirmou ser a favor do movimento Escola Sem Partido. Depois que saiu o anúncio de Vélez Rodríguez, Schelb parabenizou o presidente pela indicação.

O professor é um desconhecido na comunidade educacional. Ele mantém um blog em que, em 7 de novembro, conta que foi indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho a Bolsonaro para comandar a pasta. No texto, diz que é preciso “refundar” o Ministério da Educação no “contexto da valorização da educação para a vida e a cidadania a partir dos municípios” e que será o ministro da Educação para “tornar realidade, no terreno do MEC, a proposta de governo externada pelo candidato Jair Bolsonaro, de Mais Brasil e Menos Brasília”. Diz ainda que Bolsonaro venceu porque representou a insatisfação de todos os brasileiros contra governos petistas.

O professor também é critico de outros nomes que foram pensados para o MEC, como o da presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Maria Inês Fini. Para o futuro ministro, o Enem, prova pela qual ela é responsável atualmente, é um “instrumento de ideologização”.

 

Ataque

Sobre educação, Vélez escreve de maneira complicada, mas deixa clara sua afinidade com projetos como Escola sem Partido. Diz em seu blog que os brasileiros estão “reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de ‘revolução cultural gramsciana’, com toda a coorte de invenções deletérias em matéria pedagógica, como a educação de gênero”. Para ele, essa educação atual estaria “destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo”.

O professor tem um livro, de 2015, em que critica o PT: A Grande Mentira. Lula e o Patrimonialismo Petista. Na contracapa, diz que o partido conseguiu “potencializar as raízes da violência”, mediante a disseminação “de uma perniciosa ideologia que já vinha inspirando a ação política do Partido dos Trabalhadores: a ‘revolução cultural gramsciana’”.