O globo, n. 31165, 04/12/2018. Rio, p. 15

 

Em oito anos, Pezão realizou apenas 11 saques bancários

Aguirre Talento

Bela Megale

04/12/2018

 

 

Segundo investigação, governador passou a fazer retiradas com frequência somente após a prisão de Sérgio Cabral; PF vê indícios de que ele tinha acesso a dinheiro vivo

A Polícia Federal (PF) analisou dados bancários do governador Luiz Fernando Pezão (MDB), preso semana passada na Operação Boca de Lobo, e concluiu que ele realizou apenas 11 saques de suas contas durante um período de oito anos, entre 2007 e 2014. Para a PF, que não chegou a apresentar provas materiais, a baixa movimentação é indício de que o governador se beneficiou de “recursos financeiros de conta registrada em nome de terceiros ou mesmo possua muito dinheiro disponibilizado em espécie”. Os saques só passaram a ser feitos com frequência após a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, em novembro de 2016.

Pezão é acusado pela PF e pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de ter recebido cerca de R$ 40 milhões em propinas, sendo a maior parte por meio de entrega de dinheiro vivo para seus emissários, de acordo com a investigação. A PF obteve indícios de que os repasses ocorreram de 2007, a partir da gestão de Cabral, a junho de 2015, quando Pezão já era governador. Policiais afirmam que, na maior parte desse tempo, ele recebeu uma mesada de R$ 150 mil por ordem de Cabral. Foi justamente no período dos supostos pagamentos de propina que as contas de Pezão registraram volume reduzido de saques de dinheiro – as retiradas passam a ser feitas com frequência a partir de novembro de 2016, mês em que a Lava-Jato prendeu Cabral.

Os saques variaram de R$ 10 a R$ 3 mil, de acordo com relatório da PF. Foram analisadas nove contas abertas em nome de Pezão, sendo quatro contas-correntes, quatro poupanças e uma conta-salário. Duas delas concentraram a maior parte das movimentações, mas a quantidade de saques foi considerada baixa e “destoante” para a PF. A primeira conta era usada por Pezão para receber o salário de secretário de Obras e de vice-governador, entre 2007 e 2012. Nesse período, a conta registrou dez saques, no valor total de R$ 6 mil.

Recurso do STF

A partir de 2012, Pezão começa a migrar sua movimentação financeira para outra conta, que só chegou a registrar um saque em dezembro de 2014 no valor de R$ 10. Cabral foi preso pela Lava-Jato em 17 de novembro de 2016. Doze dias depois, a conta de Pezão registra um saque de R$ 500. Esse foi o primeiro de uma série de 26 retiradas até junho de 2018, em valores que variavam de R $100 aR $4.738,90. O relatório da movimentação bancária de Pezãoéumd os mais fortes indícios apontados pela PF de que ele teria ocultado dinheiro de propina.

Ontem, a defesa de Pezão entrou com pedido de revogação da prisão preventiva no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com seus advogados, as acusações de que o governador recebeu propina foram baseadas em declarações de delatores e em “papeluchos produzidos por eles próprios, para viabilizar seus respectivos acordos de colaboração”. Alegam que a prisão é ilegal, pois apresenta “ilações, suposições e conjecturas”, sem provas que a sustentem.