Correio braziliense, n. 20271, 20/11/2018. Política, p. 6

 

Voto aberto contra Renan

Denise Rothenburg e Gabriela Vinhal

20/11/2018

 

 

TRANSIÇÃO DO GOVERNO » Estratégia de alguns senadores com a medida é inibir parlamentares que apoiariam o emedebista nos bastidores a se exporem com a escolha dele para a Presidência da Casa. Alagoano nega intenção de concorrer

A três meses da eleição da Presidência do Senado, parlamentares deflagram uma cruzada para que o futuro nome a ocupar o cargo mais alto da Casa seja escolhido por voto aberto. O objetivo dos parlamentares envolvidos na estratégia é dificultar a eleição de Renan Calheiros (MDB-AL) para presidente. Eles acreditam que, ao ter o voto exposto, inibirá muitos que hoje poderiam apoiar Renan e não o desejam fazer publicamente. O primeiro disparo ocorreu ontem, quando o senador Lasier Martins (PSD-RS) foi à tribuna para pedir o voto aberto. “Temos que atender o grito das urnas que pediu renovação”, afirmou o senador.

Lasier apresentou como precedente o caso da prisão do então senador Delcídio do Amaral, que se deu com o voto aberto. “Se ali foi possível, por que não para eleição do presidente da Casa? O regimento fala em voto secreto, mas a Constituição, não”, argumenta Lasier, que pretende ir até o Supremo Tribunal Federal, se preciso for, para tentar garantir o voto aberto para eleição do presidente do Senado, em 2019.

“Que o Senado seja o exemplo, o modelo de lisura, de transparência, de correção, de espírito público, de atendimento aos interesses do Brasil, tão desprezados nesses últimos tempos. O que se quer sempre é a respeitabilidade, o conceito do Senado. E acho que também, por isso, uma votação em aberto para a Presidência do Senado irá ao encontro desse desejo da população, em sintonia com o recado das urnas”, disse, durante o discurso.

Apesar de haver a mobilização nos corredores do Senado para a eleição de Renan à Presidência, o senador nega pleitear o posto. “Não sou candidato à Presidência do Senado. Não cogito e não quero. Já fui presidente quatro vezes, sendo o senador que mais se elegeu para esse cargo desde a redemocratização. A presidência não pode ser um fim em si mesmo e não há escassez de bons nomes. Essa agonia é para fevereiro”, escreveu, em sua conta no Twitter.

Renan é o nome mais forte do MDB para tentar concorrer à vaga. Com a maior bancada na Casa no ano que vem, composta por 12 senadores, o partido aposta em Renan, que mantém boa articulação entre correligionários, aliados e pessoas do Executivo. Como o presidente do MDB, o senador Romero Jucá (RR), não foi reeleito, é esperado que um veterano tome as rédeas da legenda. A principal concorrente de Renan, no entanto, é a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que, embora seja veterana no Senado, não agrada a cúpula do partido.

Assim como Lasier, a senadora Ana Amélia (PP-RS) também defendeu o voto aberto à Presidência. Ela citou a politização do Judiciário — ou a judicialização da política, que dá abertura para que representantes do Judiciário ocupem espaço no Congresso Nacional. Para a parlamentar, com a eleição de Jair Bolsonaro, os poderes estarão mais independentes, “cada um no seu quadrado”. Portanto, os presidentes da Câmara e do Senado deveriam ter atuação “exemplar” para manter bom relacionamento institucional.

“Penso que essa disputa vai também ser a primeira decisão importante que a Casa tomará em relação aos destinos e ao comando do Senado, que tem a responsabilidade, como Casa da República, exatamente de não apenas cuidar da crise federativa aguda que estamos vivendo, mas também de aspectos políticos e institucionais relevantes. Então, parabéns pela abordagem desse tema, e nada melhor do que uma eleição com voto aberto”, completou.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), contudo, contesta a movimentação dos parlamentares, mesmo que seja para vetar um ou outro nome ao cargo mais alto da Casa. Ela explica que, se o voto for aberto, pode causar um “constrangimento” entre os congressistas, que seriam forçados pelos respectivos partidos a votarem em um nome indicado pela própria sigla. “O voto secreto para autoridades serve de proteção para os parlamentares. Não importa se é para A ou para B. É preciso haver congruência”, declarou.