Título: O traço do artista no QG militar
Autor: Mader , Helena
Fonte: Correio Braziliense, 22/07/2012, Política, p. 2

As "atividades subversivas" de Oscar Niemeyer eram acompanhadas de perto por agentes da ditadura, mas as posições políticas do arquiteto nunca foram uma razão para afastá-lo completamente da cidade que ajudara a criar. Apesar de vetado para fazer o Aeroporto de Brasília, o comunista desenhou o projeto do Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano. A construção monumental saiu do papel nos anos mais difíceis da ditadura. Ainda nessa época, ele projetou o Palácio do Jaburu, que foi ocupado por alguns dos militares mais linha-duras do regime.

Com seu discurso e com sua ideologia, Niemeyer combatia o governo. Mas ele não se privava de espalhar seus monumentos pela capital federal, comandada pelos militares. "Nunca me calei. Nunca escondi minha posição de comunista. Os governantes compreensivos, que me convocam como arquiteto, sabem da minha posição ideológica", contou o arquiteto no livro Curvas do tempo. "Pensam que sou um equivocado e eu deles penso a mesma coisa."

Durante a elaboração do projeto do QG do Exército, não houve atritos. Mas já no início da abertura política, nos anos 1980, o arquiteto enfrentou uma barulhenta resistência contra seu projeto para o Memorial JK. A escultura do presidente Juscelino Kubitschek sobre uma estrutura curva de concreto era vista pelos militares como uma referência à foice, símbolo do Partido Comunista.

Houve quem defendesse o fechamento com tijolos da estrutura que protegia a escultura, para disfarçar qualquer referência ao Partido Comunista. Apesar da resistência, o projeto vingou. E anos depois, Niemeyer confirmou o espírito político e questionador de sua obra. "O objetivo foi contestar a ditadura existente, obrigando os mais reacionários a vê-lo (JK) todo dia, sorrindo, vitorioso sobre a cidade que Lucio inventou e ele construiu", contou o arquiteto em suas memórias.