Título: Campanha sob o efeito Cachoeira
Autor: Valadares , João
Fonte: Correio Braziliense, 22/07/2012, Política, p. 6

Anápolis (GO) — Na terra do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, interior de Goiás, a prisão do "filho ilustre" e de seus principais subordinados produziu um efeito devastador na disputa eleitoral da cidade. O canal Cachoeira, que sempre irrigou fartamente as contas de campanha de boa parte dos candidatos, secou. É campanha a pão e água. Os cofres dos partidos estão vazios. Não há dinheiro para nada. Assustado com a repercussão do escândalo a partir da investigação da Operação Monte Carlo, o empresariado local sumiu. As principais gráficas da cidade, acostumadas a dobrar o faturamento nesta época, estão paradas.

Não é preciso muito esforço para perceber o efeito Cachoeira. Basta circular rapidamente por Anápolis. É visível. A impressão é de que a campanha foi proibida no município. Não há o menor sinal de disputa política. Mais de 15 dias depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) liberar a propaganda, os candidatos a vereador estão desesperados. Não têm dinheiro sequer para confeccionar os chamados "santinhos". A situação é tão crítica que, até nos comitês eleitorais dos candidatos a prefeito, não existe nenhum material.

O empresário Wilson de Oliveira (DEM), que se coligou ao PSDB para tentar vencer o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT), disse que todos vão ter que fazer uma campanha franciscana. "Será uma campanha totalmente diferente das outras. Essa história do Cachoeira assustou todo mundo. É fato. Os empresários não querem saber de fazer doação. Estão com medo. Aqui, até o PT terá que fazer uma campanha pobre", disse. Wilson sabe o que fala. Ele é presidente da Associação Comercial e Industrial de Anápolis (Acia) e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg).

Cartazes e santinhos No quartel-general do DEM/PSDB, que funciona numa casa alugada no centro da cidade, as paredes estão todas brancas. Não há nenhuma referência ao candidato. Na mesa, havia um santinho do seu principal adversário. "É um modelo apenas." Para fazer a foto que ilustra a reportagem, ele teve que mandar uma funcionária imprimir um panfleto. No comitê do prefeito Gomide, a situação é parecida. As paredes também estão vazias. Na fachada, não há nem o nome dele ainda. Procurado pelo Correio, ressaltou que não fala sobre campanha dentro da prefeitura para evitar qualquer insinuação de utilização da máquina municipal.

Na Câmara dos Vereadores, alguns candidatos procuravam assessores dos partidos para viabilizar ao menos uma faixa para divulgar nome e número. Desde 1992 trabalhando em disputas eleitorais em Anápolis, Marcos Antônio Dias de Jesus, o Marcão, assessor do vereador Cabo Jacinto (PTC), virou uma espécie de consultor para ensinar candidatos a driblar a "crise Cachoeira". "O dinheiro acabou. Quem não tiver recurso próprio ou um trabalho forte de base, não adianta chorar porque não vai se eleger", sentencia. Ele diz que quem quiser vencer, terá que suar. "Ninguém aqui é acostumado com uma campanha assim. Isso nunca existiu. Vão ter que suar muito para conseguir uma vaga aqui na Câmara Municipal de Anápolis."