O globo, n. 31221, 29/01/2019. País, p. 4

 

O risco do São Francisco

Manoel Ventura

Bruno Rosa

29/01/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Vale fará ‘cortina’ para tentar deter lama

Depois de informar pela manhã que alam adere jeitos chegaria ao Rio São Francisco, governovolta atrás e acredita que reservatório de hidrelétrica vai reter antes o material. Enquanto em Brumadinho (MG) a luta ainda é para encontrar sobreviventes, governo federal e Vale têm agora uma nova preocupação: impedir que a lama de rejeitos de minério atinja o Rio São Francisco. Símbolo da integração nacional, o rio está a 30 quilômetros da hidrelétrica de Retiro Baixo, que deve reter a maior parte da pluma (mistura de rejeito e água) vazada da barragem da Vale.

Caso Retiro Baixo não dê conta de segurar toda a lama que saiu da barragem em Brumadinho, o material irá para o lago da hidrelétrica de Três Marias, o primeiro do Rio São Francisco, que passa por cinco estados. O diretor-financeiro da Vale, Luciano Siani, anunciou ontem a empresa vai construir uma “cortina” de contenção de rejeitos, uma espécie de dique, no Rio Paraobeba, na altura de Pará de Minas, a cerca de 75 quilômetros de Brumadinho.

— Vamos construir essa membrana a partir de amanhã (hoje). Objetivo é reter esses colóides, que são partículas muito grossas (de minério), e permitir a continuidade da captação de água. Nosso objetivo é que não haja ruptura na captação de água nas cidades a jusantes (que seguem a correnteza) do Rio Paraopeba —disse o executivo.

Na mesma entrevista, a Vale anunciou que irá fazer uma doação emergencial de R$ 100 mil, de imediato, a cada família das vítimas fatais da tragédia; manterá a compensação financeira de recursos minerais para o município de Brumadinho; e usará uma equipe de psicólogos do Hospital Israelita Albert Einstein especializada em tratamento de vítimas de catástrofes atender a famílias dos atingidos.

O Rio Paraobeba é um dos principais afluentes do São Francisco. Por isso, a preocupação da lama da barragem de Brumadinho chegar a Três Marias. Ontem, dois relatórios elaborados por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e da Agência Nacional de Águas (ANA) divergiram sobre a possibilidade da água com barro invadir o Velho Chico.

Apreensão

O primeiro boletim, divulgado pela manhã, previa que lama chegaria a Três Marias entre 15 e 20 de fevereiro. Depois, à noite, o governo recuou, afirmando que a “expectativa é que todo o rejeito fique retido no reservatório” da usina da Retiro Baixo, onde chegará entre os dias 5 e 10 do próximo mês, “não alcançando o reservatório da Hidrelétrica de Três Marias”. A onda de lama percorre a região a uma velocidade de 1 km/h, segundo o governo.

O vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Maciel Oliveira, disse que equipes técnicas monitoram a qualidade da água do rio. Municípios da região de Três Marias e órgãos de abastecimento de água, Ibama e Cemig (responsável pela hidrelétrica), preparam uma forçatarefa para acompanhar a situação no reservatório.

— Estamos nos preparando para receber a lama — disse Maciel. — Os municípios do entorno de Três Marias estão sendo mobilizados para traçar imediatamente uma estratégia de ação de como enfrentar essa situação —acrescentou.

Apesar da ANA e do CPRM sustentarem que Retiro Baixo será capaz de conter a lama, outro órgão, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) — responsável pela fiscalização de hidrelétricas — enviou ofício à usina solicitando relatório sobre a capacidade do seu reservatório de suportar os rejeitos. A barragem de Retiro Baixo foi uma das 122 estruturas fiscalizadas in loco pela Aneel entre 2016 e 2018 “e está em boas condições”, segundo nota.

A hidrelétrica de Retiro Baixo tem potência de 82 MW e está atualmente operando em cer cade 20 M W, para diminuir o nível de seu reservatório afim der etera lama. A unidade vai continuar gerando até que seu reservatório atinja o nível operacional mínimo. O reservatório tem área de 22,58 km2, com profundidade média de 22 metros.

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Número de mortos chega a 65, e desaparecidos já são 279

Cleide Carvalho

29/01/2019

 

 

Forças de resgate identificaram 31 corpos, e buscas continuam

O número de mortos em decorrência do rompimento da barragem 1 da Mina do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG), subiu para 65. Segundo o tenente coronel Flávio Godinho, um dos coordenadores da operação de resgate, 31 corpos foram identificados. O número de desaparecidos chega a 279, segundo o último boletim, divulgado ontem à noite.

Uma equipe com cerca de dez bombeiros esteve no local onde foi encontrado um ônibus. Cães farejadores e uma escavadora auxiliam nas buscas de corpos. Ainda não se sabe quantas pessoas estavam no ônibus.

Um morador de Córrego do Feijão que acompanhou o resgate desde cedo disse que no local onde estava o ônibus havia uma estrada.

— Ali era um terreno muito baixo, há muita, muita lama —disse o morador.

Alam avermelha chegou ontem pelo Rio Paraopeba na altura dapon tedo centr od acidade de B rumadinho. O Paraopeba, dizemos moradores, era o que tinha mais peixes na região do Vale do Paraopeba, que fica entres eis serras, como Rola-Moça e ada Moeda.

O trabalho de resgate recebeu ontem o reforço de 136 militares de Israel, que chegaram anteontem a Belo Horizonte, com 16 toneladas de equipamentos de alta tecnologia, como sonares usados em submarinos para localizar pessoas em grandes profundidades. Cães farejadores também foram enviados pelo governo de Israel. A previsão é que os israelenses ajudem nas buscas durante uma semana.

Um dos equipamentos israelenses é capaz de encontrar pessoas com vida a 30 metros de profundidade. Apesar de a lama dificultar a sobrevivência, os bombeiros não descartam a possibilidade de ainda encontrar pessoas com vida.

— Eles já solicitaram amostras em relação ao tipo de composição da lama. É para ver se eles conseguem detectar pela sensibilidade desses sonares, a diferença entre o material de lama e o material de um corpo humano. E também equipamentos relacionados à identificação de sinal de celular. Então, se existe algum sinal de celular emitindo naquela profundidade da lama, esses equipamentos são capazes de detectar — disse o tenente Pedro Aihara, do Corpo de Bombeiros.