Título: Cachoeira no centro do debate
Autor: Caitano , Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 23/07/2012, Política, p. 6

Por ser a capital do estado palco do escândalo político que abalou o país este ano, as eleições em Goiânia dificilmente escaparão à sombra de Carlinhos Cachoeira. A disputa na cidade deve se dar principalmente entre o atual prefeito, Paulo Garcia (PT), e o deputado federal Jovair Arantes (PTB), mas conta ainda com a candidatura de Isaura Lemos (PCdoB), que já surge nas pesquisas, e de outros cinco candidatos (Veja quadro). Todos, de alguma forma, têm motivos para escancarar ou esconder a relação de personagens goianos com o esquema do contraventor.

Em março, Jovair Arantes foi citado no inquérito sobre o esquema por terem sido registradas conversas dele com o contraventor na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que resultou na prisão de Cachoeira. Na época, o deputado garantiu não ter relações comerciais com Cachoeira, mas assumiu o contato com o contraventor. "Eu falei com ele como empresário da Vitapan, no ano passado, para pedir ajuda para minha campanha. Um político, quando vai à eleição, precisa de financiamento, mas as atividades e os crimes dele são um problema dele", comentou o petebista em abril, quando também defendeu a liberação dos jogos de azar no Brasil.

A campanha de Arantes ainda terá a marca e o apoio do governador do estado, Marconi Perillo (PSDB), principal investigado por suposta ligação com o esquema de Carlinhos Cachoeira na CPI sobre o caso no Congresso. "Eu tenho a vantagem de ter na minha campanha o governador que inovou a administração de Goiás", defende o candidato.

Paulo Garcia também tem com o que se preocupar. No início deste mês, a CPI da Delta, criada na Assembleia Legislativa de Goiás para investigar o envolvimento da empresa com o esquema de Cachoeira, aprovou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do prefeito e de seu antecessor Iris Rezende (PMDB). Os dois são acusados de aprovar termos aditivos considerados duvidosos em contratos com a construtora de Fernando Cavendish, mas negam ter havido irregularidades. Além de Rezende, um dos cabos eleitorais do prefeito é o deputado federal Rubens Otoni (PT), flagrado em vídeo de 2004 negociando com o bicheiro o pagamento de R$ 100 mil para gastos não declarados com campanha.

Livre da cassação A Câmara dos Deputados investigou o caso e considerou não haver provas suficientes para incriminar o parlamentar. A imagem de Garcia também foi estremecida quando seu ex-chefe de gabinete Cairo Freitas se demitiu do cargo ao serem reveladas gravações que o apontam organizando encontro de vereadores de Goiânia com o ex-vereador Wladmir Garcêz e Cachoeira.

Para a cientista política da Universidade Federal de Goiás (UFG) Denise Paiva, os efeitos do escândalo poderão ter mais reflexos na disputa eleitoral de 2014, quando Perillo deve tentar a reeleição. "Mas esse tema certamente vai surgir e ter um impacto na campanha municipal deste ano." O prefeito Paulo Garcia assegura não ter predisposição para debater assuntos que não se refiram a propostas para a cidade. "Eu seria hipócrita se afirmasse que esse tema (Cachoeira) não vai interferir no processo eleitoral, até porque o desapontamento da nossa comunidade em relação a alguns agentes públicos é notório." Jovair Arantes rebate, afirmando que vai se concentrar em discutir os problemas da cidade. "Não vou colocar isso em discussão porque quem olha no retrovisor bate o carro", conclui.