Título: Aliança simboliza status de potência
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Fonte: Correio Braziliense, 23/07/2012, Mundo, p. 15

Respeito internacional e cálculo geopolítico também explicam a importância dada hoje pelo Kremlin às relações cultivadas com a Síria já no período soviético, quando era o pai de Bashar, Hafez Al-Assad, quem governava em Damasco. "Vladimir Putin é um presidente assertivo, nacionalista, e utiliza essas alianças como forma de reerguer o prestígio da Rússia, abalado no anos 1990", analisa Ângelo Segrillo, do Instituto de Relações Internacionais da USP. "Tem um fator extra do qual muitos não se dão conta, que é a percepção russa de que casos como a Revolução Laranja (na Ucrânia) e a atual Primavera Árabe têm a ver com o interesse do Ocidente, que, seletivamente, escolhe os países que serão "ajudados". A Síria, por exemplo, era inimiga de Israel e dos Estados Unidos. Então, há outros interesses em derrubar esse regime, pois a queda pode desarticular e formar novas alianças", completa.

Ainda de acordo com Segrillo, Putin receia que seu país se torne alvo potencial para uma revolta pró-democrática. "Ele tem medo de uma "primavera" na Rússia. Por isso, quer colocar um freio nos processos de intervenção internacional e, assim, apresenta como alternativa a negociação de uma saída, como foi feito no Iemên. Putin propõe esse tipo de negociação como autodefesa", finaliza o estudioso.

De acordo com o especialista Dmitry Gorenburg, do Centro Davis para Estudos da Rússia e da Eurásia, da Universidade de Harvard (EUA), a aliança Moscou-Damasco é vista como um dos últimos remanescentes do status de superpotência herdado da extinta União Soviética. "Para defensores dessa perspectiva, a intervenção ocidental na Síria seria vista como a destruição de um dos poucos símbolos remanescentes da condição da Rússia como país de grande poder", escreveu Gorenburg em seu website.

Ele acredita que os líderes russos estão preocupados com os ganhos obtidos pelas forças islâmicas na região, particularmente no Egito. "Os perigos de derrocada popular de autocratas locais e subsequentes vitórias eleitorais de partidos islâmicos têm levantado temores sobre a dominação islâmica em um ou mais países da Ásia Central. Embora tal cenário pareça improvável, é uma questão particularmente sensível para a Rússia, porque, provavelmente, levaria a um aumento significativo nos fluxos de migração da região, desestabilizando ainda mais uma situação política interna já volátil." (MFS)