O globo, n. 31219, 27/01/2019. País, p. 13

 

Fator Onyx tumultua a eleição do Senado

Amanda Almeida

27/01/2019

 

 

Major Olímpio, Simone Tebet e Espiridião Amin reagem a suposta manobra em favor de Alcolumbre e já há quem diga que governo Bolsonaro pode ganhar uma ‘espécie de Eduardo Cunha’ no comando da Casa

A seis dias da eleição para o comando do Senado, parlamentares aceleraram as negociações e intensificaram as ligações em busca de votos. O PSL tenta enfraquecer Renan Calheiros (MDB-AL) e dar suporte à campanha da também emedebista Simone Tebet (MS). Apesar disso, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, é acusado de tumultuar o cenário político ao expressar preferência pelo senador Davi Acolumbre (DEMAP). Resultado: o episódio rendeu-lhe críticas públicas de Major Olímpio (PSLSP), principal nome do partido do presidente Jair Bolsonaro no Senado, e da própria Simone Tebet. No Senado, a eleição para a presidência é dominada por Renan, que tenta sua quinta temporada no comando da Casa. Seus aliados admitem que ele ainda não tem segurança numérica da vitória, mas apostam que, em um cenário em que há pelo menos nove senadores tentando ganhar musculatura para levar suas candidaturas até o plenário, Renan tem mais chances de formar maioria. A disputa ganhou novos contornos na última semana, quando Simone e Olímpio, também pré-candidato, acusaram Onyx de intervir na disputa. Os relatos são de que Leonardo Quintão, integrante da equipe do ministro, fez propostas para que senadores desistissem da candidatura. Lorenzoni nega a tentativa. — Eu tenho uma advertência. O governo não ganha nada com isso. E perde muito. Não é bom para o governo e consequentemente não é bom para os projetos que ele tem para o país. Se o candidato do governo ganha, não tem legitimidade. Se o governo perder, vai ganhar uma espécie de Eduardo Cunha — diz o senador eleito e também candidato Esperidião Amin (PP-SC).

Votação secreta

Amin faz referência ao antagonismo com que Cunha comandou a Câmara no governo Dilma Rousseff (PT). No auge da falta de entendimento entre os dois, o exdeputado abriu espaço para o processo que acabou com o impeachment contra a expresidente.

—O único que tem autoridade para falar pelo governo sobre isso se chama Jair Bolsonaro e já disse “não me meto”. Quem está se metendo está desobedecendo a determinação do presidente —diz Olímpio. Tradicionalmente, o Senado elege como presidente um representante da maior bancada. Atualmente, é o MDB, com 12 senadores. Por isso, Renan e Simone Tebet são naturalmente os candidatos mais fortes. A senadora aposta na onda anti-Renan, impulsionada pelas redes sociais e por declarações de senadores pedindo “renovação” no comando da Casa. Simone diz que, se o MDB não “ouvir a voz das urnas, terminará como um partido nanico”. Enquanto a senadora atua em voz alta, Renan é silencioso. Ele repete estratégia de anos anteriores. Nega publicamente que é candidato, enquanto pede votos para os colegas dia e noite. “Já fui várias vezes presidente do Senado, em momentos também difíceis. A decisão caberá à bancada, e temos outros nomes”, escreveu Renan nas redes sociais, recado que não convenceu nenhum parlamentar. A confusão envolvendo Lorenzoni é ponto a favor de Renan, avaliam seus aliados. Pregam que o emedebista é o único candidato que tem “coragem” de garantir a independência do Legislativo. Renan tem também acenado ao governo. Defende como pauta prioritária a reforma da Previdência, a prioridade da equipe econômica. Outro fator positivo para o emedebista, analisa o entorno de Renan, é o caso envolvendo o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente, com movimentações financeiras atípicas e ligação de ex-assessores com milícia.

No início do mês, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, decidiu manter votação secreta para a eleição da Mesa do Senado. Adversários de Renan consideram que a votação fechada é favorável ao senador do MDB, por garantir o sigilo do apoio ao candidato já desgastado na opinião pública e com 12 inquéritos abertos, vários deles decorrentes da Lava-Jato.