O globo, n. 31218, 26/01/2019. País, p. 4

 

'Desta vez, a tragédia é humana'

26/01/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Barragem cede em Minas e deixa 150 desaparecidos

Rompimento de barragem de rejeitos atinge parte de comunidade e área administrativa da Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Restaurante onde funcionários almoçavam foi soterrado. Sete corpos já foram resgatados. Presidente da mineradora reconhece: ‘É inaceitável’

Três anos depois que uma avalanche de lama de mineração devastou Mariana (MG), no maior desastre ambiental do Brasil, uma nova tragédia, com roteiro semelhante, atingiu Minas Gerais. Uma barragem de rejeitos da Vale se rompeu, ontem, por volta de 12h30m, no município de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O governo de Minas informou que, aproximadamente, 150 trabalhadores estão desaparecidos. Até o fechamento desta edição, sete corpos já tinham sido encontrados. Os rejeitos, permeados de areia, ferro e sílica, atingiram a área administrativa da Vale na Mina Córrego do Feijão. Parte da comunidade da Vila Ferteco e a área administrativa da companhia ficaram debaixo da lama. O governo do estado informou que 427 pessoas estavam no local, sendo que 279 foram resgatadas vivas. Nove delas foram retiradas dos rejeitos e outras 100, que estavam ilhadas, tiveram o resgate bem-sucedido. O restaurante dos trabalhadores ficou soterrado.

— Desta vez, é uma tragédia humana —afirmou o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, que classificou o episódio como “inaceitável”. Uma grande operação de salvamento e resgate foi montada, com atuação dos governos estadual e federal e do Exército. O presidente Jair Bolsonaro deve chegar hoje ao local do acidente. Ministros e o governador de Minas, Romeu Zema, se deslocaram ontem mesmo para coordenar os trabalhos.

Logo após o rompimento, a Defesa Civil determinou a evacuação do centro de Brumadinho. O parque do Instituto Inhotim também foi fechado, mas não houve danos. Segundo o presidente da

Vale, a barragem não era utilizada há três anos, e o risco de contaminação do Rio Paraopeba, afluente do Rio São Francisco, é “pequeno ou quase nulo”. Uma das ações mais urgentes e sensíveis tem por objetivo reter a onda de rejeitos na barragem da usina de Retiro Baixo, a 220 km do local do acidente.

O Complexo de Paraopeba, onde aconteceu o novo desastre, tem quatro minas, uma jazida inoperante e duas usinas. O acidente ocorreu na barragem 1 da mina Córrego do Feijão. Duas outras barragens transbordaram. Ali, a Vale produziu, em 2017, cerca de 26 milhões de metros cúbicos de minério de ferro, o que corresponde a 7% da produção da companhia, segundo relatório da mineradora. A Defesa Civil informou que a barragem que se rompeu tinha cerca de 13 milhão de metros cúbicos de rejeitos. No desastre de Mariana, em 2015, cerca de 45 milhões de metros cúbicos de lama vazaram de instalações da mineradora.

A nova tragédia, envolvendo a mineração da Vale, em Minas, ocorreu a cerca de 200 quilômetros da barragem que se rompeu em 05 de novembro de 2015, em Mariana. Lá, o desastre ambiental matou 19 pessoas. Até hoje, moradores da região do Rio Doce reivindicam indenizações pelos prejuízos econômicos e punições para os responsáveis. Na cidade, projetos de recuperação do Vale do Rio Doce, financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), estão parados por falta de investimentos da entidade estadual.

Após o acidente de ontem, os recibos de ações (ADRs, na sigla em inglês) da Vale foram negociadas em Nova York com queda de 7,91%. Não houve negócios

 

na Bolsa brasileira devido ao feriado em São Paulo.