Título: Ex-cunhado é libertado
Autor: Jeronimo , Josie
Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2012, Política, p. 2/3

Depois de pagar uma fiança de R$ 10 mil, Adriano Aprígio ganhou liberdade ontem. Ex-cunhado do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, Aprígio havia sido preso em Goiânia em 6 de julho, sob a suspeita de ter feito ameaças por e-mail à procuradora da República Léa Batista, uma das integrantes do Ministério Público responsáveis por conduzir as investigações da Operação Monte Carlo. Aprígio foi detido depois de a Polícia Federal descobrir que as mensagens dirigidas à Léa teriam sido enviadas de um computador situado na residência do ex-cunhado do contraventor.

Adriano é irmão da ex-mulher de Cachoeira, Andréa Aprígio de Souza, e é apontado como testa de ferro do bicheiro, que está preso desde 29 de fevereiro sob a acusação de comandar um grupo que explorava jogos ilegais e fraudava licitações. Responsável por chefiar uma indústria farmacêutica de propriedade de Cachoeira, Aprígio havia sido preso em fevereiro, quando a Monte Carlo foi deflagrada. Ele, porém, acabou beneficiado por um habeas corpus. Depois, acabou detido pela segunda vez.

De acordo com as apurações da PF, Aprígio tem bens que seriam de Cachoeira registrados em seu nome. Ele também movimentou em suas contas valores seis vezes superiores do que o rendimento dele declarado em 2009. Um dos e-mails que o ex-cunhado de Cachoeira teria enviado à procuradora tinha como título a palavra "cuidado". Aprígio se identificou como "Silvio Caetano Rosa" e alertou no texto que Léa e a família corriam risco. "Sua vadia, ainda vamos te pegar, cuidado, você e sua família correm perigo", destacou.

"Injustiçado" Em junho, o Correio divulgou com exclusividade o primeiro e-mail recebido pela procuradora, em que o autor, identificado como "injustiçado", afirmou que seu "trabalho lícito" fora quase liquidado pelas investigações do Ministério Público e, ainda, que familiares de Cachoeira continuavam operando jogos ilegais.

"Quero dizer que foi dura comigo, por pouco não destruiu minha família. Meu trabalho lícito, você quase o liquidou. Pois bem, me diga por que não pegaram quem ganha dinheiro com estas porcarias de jogos e afins?(...) e mais (sic) é bom que saibam: Marco Antônio de Almeida Ramos e Paulo Roberto de Almeida Ramos juntamente com o filho Thiago Almeida Ramos estão operando máquinas e pontos, estão ganhando dinheiro (... ) Tudo bem, sei que vão saber quem sou (...)", escreveu o remetente do texto enviado a Léa no dia 13.

Ontem, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou mais uma vez um pedido de soltura de Cachoeira. Dessa vez, a decisão foi do presidente da Corte, ministro Ari Pargendler. A defesa pedia que o STJ reconsiderasse a decisão que derrubou a liminar concedida pelo desembargador federal Fernando Tourinho Neto — no mês passado, o magistrado concedera um habeas corpus ao contraventor.

Memória

Silêncio na CPI Em 22 de maio, o contraventor Carlinhos Cachoeira compareceu ao Senado, escoltado pela Polícia Federal e agentes do Departamento Penitenciário Nacional, para cumprir a convocação da CPI criada para investigar a organização criminosa comandada por ele. O primeiro depoimento havia sido marcado para a semana anterior, mas foi cancelado devido a uma liminar obtida pela defesa do bicheiro. A aguardada participação dele na CPI, no entanto, não produziu os efeitos desejados. Cachoeira ficou menos de três horas e, durante sua permanência, se recusou a responder às perguntas dos parlamentares alegando que usaria o direito constitucional de ficar em silêncio.

Como o depoimento à CPI fora marcado às vésperas da audiência na Justiça, Cachoeira alegou que só falaria em juízo e não poderia adiantar à comissão informações que deveria prestar no âmbito do processo que responde na 11ª Vara Federal. Ele foi escoltado na sessão pelo ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos, que o defende das acusações de exploração de jogos ilegais e corrupção.

O silêncio do contraventor irritou os parlamentares. O deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR) chegou a afirmar que o contraventor estava tratando os congressistas como "palhaços" na sessão. Diante das repetidas negativas de Cachoeira em prestar informações à comissão, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) pediu a suspensão dos trabalhos e reclamou que o contraventor estava "manipulando" os parlamentares.