O globo, n. 31218, 26/01/2019. País, p. 7

 

Bolsonaro diz que Mariana não serviu de alerta

Daniel Gullino

Jussara Soares

Patrik Camporez

26/01/2019

 

 

Presidente vai sobrevoar região

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que o desastre de Mariana (MG) deveria ter servido de alerta para o Brasil e lamentou que uma tragédia semelhante tenha acontecido. O governo federal montou um gabinete de crise para acompanhar o tema, e Bolsonaro deve chegar na manhã de hoje a Brumadinho (MG), onde houve a ruptura da barragem. — Montamos um gabinete de crise e ficaremos antenados 24 horas por dia para prestar informações para a população, de modo que nós possamos minimizar mais essa tragédia, depois de Mariana. Esperávamos que não tivesse uma outra, até por uma questão de aquela servir de alerta. Mas, infelizmente, temos esse problema agora — disse Bolsonaro à Rádio Regional FM, de Brumadinho. Bolsonaro vai viajar acompanhado da primeiradama, Michelle Bolsonaro, e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. O governador de Minas, Romeu Zema, também vai integrar a comitiva. O presidente disse que não quer apontar culpados, mas afirmou que “algo está sendo feito errado” na mineração:

— Não quero começar a culpar os outros pelo que está acontecendo. Mas algo está sendo feito errado ao longo do tempo.

Na noite de ontem, os ministros do Meio Ambiente (Ricardo Salles), Desenvolvimento Regional (Gustavo Canuto) e Minas e Energia (Bento Albuquerque) e o Secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, Alexandre Lucas, sobrevoaram a região atingida pelos rejeitos. De acordo com Bolsonaro, essa situação “não tem nada a ver com o governo federal”, a quem cabe, segundo ele, apenas a fiscalização. — Sobrevoaremos a região para que possamos, mais uma vez reavaliar os danos, tomar todas as medidas cabíveis para minorar o sofrimento de familiares e possíveis vítimas, bem como a questão ambiental —afirmou o presidente, em pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto. O vice-presidente Hamilton Mourão seguiu a mesma linha e ressaltou que a tragédia não pode ser atribuída ao governo federal. Questionado se o Brasil não aprendeu com o desastre de Mariana, Mourão pontuou que a Vale é uma empresa privada. Mais cedo, o presidente da mineradora, Fábio Schvartsman, havia afirmado que não poderia dizer que a companhia aprendeu com o episódio anterior .

— Essa conta não pode vir para gente. Não pode vir para nosso governo, porque nós assumimos faz 30 dias. A Vale é uma empresa privada. É preciso apurar o que houve, era considerado a barragem com menor grau de risco —afirmou Mourão, em referência ao relatório da Agência Nacional de Águas (ANA) que classificou a barragem como uma estrutura de risco baixo de acidentes.

O vice também comparou a tragédia de Brumadinho com a de Mariana, dizendo que, pelas informações preliminares, o novo desastre tem menor proporção, uma vez que a barragem é menos tóxica do que aquela que se rompeu há três anos. Mourão disse que a prioridade neste momento é o socorro às vítimas, e defendeu que as responsabilidades devem ser apuradas posteriormente.

— A primeira coisa que precisa ser feita é socorrer as pessoas desabrigadas e tentar buscar aquelas pessoas desaparecidas se for possível. Depois é ver a apuração da responsabilidade —disse. —Todo o governo federal está mobilizado para atuar no socorro e na resposta ao rompimento da barragem. Uma equipe da Defesa Civil Nacional, chefiada por mim, já está se deslocando para região para apoiar as ações do estado e do município — disse Alexandre Lucas. Em nota oficial, Canuto afirmou que a mobilização e o apoio do governo federal começaram logo após o rompimento da estrutura. O ministro conversou por telefone com Bolsonaro, que reforçou a importância de disponibilizar todo o apoio necessário ao estado e ao município de Brumadinho.

“Essa conta não pode vir para gente. Não pode vir para nosso governo, porque nós assumimos faz 30 dias.”

Hamilton Mourão, vice-presidente