O globo, n. 31216, 24/01/2019. Economia, p. 18

 

Bolsa tem novo recorde com defesa de ajuste

Ana Paula Ribeiro

24/01/2019

 

 

Ministro Paulo Guedes reforça, em Davos, promessa de privatizações e redução no rombo das contas públicas ainda este ano. Ibovespa sobe 1,53%, aos 96.558 pontos, enquanto dólar tem queda de 1,07%, a R$ 3,763

A Bolsa reagiu de forma positiva às declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, em relação ao ajuste fiscal. O Ibovespa, principal índice de ações local, fechou em alta de 1,53%, aos 96.558 pontos, renovando seu recorde histórico. O dólar comercial recuou 1,07%, encerrando cotado a R$ 3,763, depois de ter sido negociado a R$ 3,80.

Cleber Alessie, operador da H.Commcor, afirmou que a moeda americana recuou ontem seguindo não apenas a fala de Guedes, mas o movimento da moeda no mercado externo:

— O que impede o mercado de destravar mais são medidas concretas.

'Graças a mim'

Guedes, em entrevista à agência de notícias Bloomberg, reafirmou o compromisso do governo com o ajuste fiscal e com a proposta de zerar o déficit das contas públicas ainda este ano. O presidente Jair Bolsonaro também conversou com a agência e voltou a defender a reforma da Previdência.

À noite, em entrevista à rede Record, Bolsonaro comentou o desempenho do mercado acionário:

— Hoje acabou a Bolsa batendo novo recorde depois da fala do ministro Paulo Guedes e também, por que não dizer, da minha.

Na avaliação de Alessie, além da falta de medidas concretas que contribuam para o ajuste fiscal, a volatilidade nos mercados externos também dificulta a valorização dos ativos (ações e moeda) brasileiros.

Ele lembrou que a forte variação de preços nas Bolsas americanas deixa o investidor mais cauteloso, e isso prejudica o investimentos em países emergentes, como o Brasil.

Expectativa com os 100 mil

Em relatório, analistas da XP Investimentos lembraram ainda que novos avanços dos ativos brasileiros dependem do conteúdo da proposta de reforma da Previdência que será enviada ao Congresso.

“Com um ambiente externo de volatilidade e aversão a risco, acreditamos que, para que o Ibovespa volte a ganhar tração, mais detalhes em relação à proposta final a ser enviada ao Congresso, assim como visibilidade em relação à aprovação, serão necessários”, avaliaram. Há expectativas de que o Ibovespa possa ultrapassar os 100 mil pontos.

O enfraquecimento do dólar se deu em escala global. O Dollar Index, da Bloomberg, que mede o comportamento da divisa americana frente a uma cesta de dez moedas, recuou 0,19%.

Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença, disse à Bloomberg que o mercado está “projetando melhora da economia brasileira”.

No campo externo, a atenção dos investidores está nas negociações entre Pequim e Washington, que podem pôr fim à guerra comercial entre os dois países. Há ainda a preocupação com a desaceleração da China e, consequentemente, da economia global. O Dow Jones, principal indicador da Bolsa de Nova York, fechou em alta de 0,70%, enquanto o S&P 500, mais amplo, subiu 0,22%, graças a bons resultados corporativos. Mas permanecem as preocupações com os efeitos do shutdown (paralisação parcial) do governo americano.

— Lá fora o viés está mais positivo, e isso ajudou a Bolsa. O principal alívio veio das autoridades americanas, que negaram o cancelamento do encontro com os chineses. Isso beneficia os ativos de risco — disse Rafael Passos, analista da Guide Investimentos.

Petribrás sobe mais de 1%

Os papéis mais negociados do Ibovespa fecharam em terreno positivo e contribuíram para a renovação do recorde. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras subiram 1,19%, enquanto as ordinárias (ON, com voto) avançaram 1,04%. A valorização ocorreu mesmo com a queda do petróleo no mercado internacional. O barril do tipo Brent recuou 0,59%, a US$ 61,14.

As ações da Vale subiram 1,03%. Os bancos, de maior peso no Ibovespa, também encerraram em alta. As ações PN do Itaú Unibanco e do Bradesco avançaram, respectivamente, 0,67% e 1,71%. O Banco do Brasil ganhou 2,07%.