O globo, n. 31216, 24/01/2019. Economia, p. 19

 

Guedes vê ganho de até R$ 1,3 tri com Previdência

24/01/2019

 

 

Reforma traria uma economia significativa ao governo, diz ministro, que estima ainda que privatizações podem render até R$ 75 bi. Medidas permitiriam zerar déficit fiscal deste ano, estimado em R$ 139 bilhões

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que o governo pretende levantar este ano US$ 20 bilhões, ou cerca de R$ 75 bilhões, só com privatizações. E estima que a reforma da Previdência pode significar uma economia de até R$ 1,3 trilhão em dez anos. O montante seria até dois terços superior ao previsto na proposta do governo de Michel Temer. Ele disse ainda que a alíquota do imposto sobre dividendos e juros sobre capital próprio deve ficar em torno de 15%, o que compensaria a redução da carga fiscal sobre as empresas.

Em entrevista à Bloomberg, Guedes assegurou ainda que vai zerar o déficit fiscal deste ano, projetado em R$ 139 bilhões. Isso seria obtido pela receita com as privatizações e com as demais reformas defendidas pelo governo.

—Mais da metade do déficit será cortada com a reformada Previdência—afirmou Guedes, que defende a mudança para um sistema de capitalização, onde cada um poupa para sua própria aposentadoria. — Temos um sistema obsoleto, que já está quebrado, temos de consertar o antigo e criar um novo.

Em entrevista à Reuters, Guedes disse que a proposta de reforma da Previdência que está sendo estruturada pelo governo pode render uma economia de R$ 700 bilhões a R$ 1,3 trilhão em dez anos:

— Estamos estudando os números, e eles variam de R$ 700 bilhões a R $1,3 trilhão, então é uma reforma significativa e nos dará um importante ajuste estrutural—disse.—Isso terá um poderoso efeito fiscal evai resolver por 15,20,30 anos. É isso ou seguimos (o caminho da) Grécia.

Outro projeto é aliviar o setor produtivo. Guedes quer reduzir o imposto pago pelas empresas, de uma alíquota de 34% para 15%. Para compensara perda de arrecadação, seriam taxados dividendos e juros sobre capital próprio. Ao ser perguntado se a alíquota poderia ficar em 15%, Guedes respondeu “Por aí”, sem, no entanto, mencionar uma cifra.

Blindagem em Davos

Guedes pretende, no futuro, reduzir subsídios, mas sabe que isso demandará mais tempo, pois precisa de aprovação do Congresso. Hoje, os subsídios concedidos pelo governo estão em US$ 100 bilhões.

—Se cortarmos 10%, já são US$ 10 bilhões — afirmou, destacando, porém, que se o governo falar de cortar os subsídios agora, perderá apoio político. — Por que entrar em batalhas menores se temos algumas maiores? E a maio ré ada Previdência.

Ele reiterou que outro objetivo é abrir a economia.

— Estamos indo na direção de uma economia pró-mercado, aberta e com privatizações. Vamos privatizar, integrara economia ao restante do mundo — disse Guedes. — Estamos 40, 45 anos atrasados em relação a outros países.

No Fórum de D avos,executivos se lançaram em uma espécie de blindagem de Guedes. Nas reuniões de que participaram até agora, mesmo as de mais alto nível, discute-seà exaustão apauta positivado ministro, e até mesmo dos riscos de não se aprovara reformada Previdência, que depende do apoio do Congresso. Mas não se toca em um assunto incômodo: o caso do senador Flávio Bolsonaro.

—Oque todos querem agora é ver o Brasil voltara crescer —disse uma fonte que ouviu, de mais de uma pessoa, os motivos para o mercado se concentrar na economia.

A percepção é a de que atarefa já foi delegada ao ministro como ficou claro no discurso do presidente Jair Bolsonaro em Davos. Por isso, executivos e investidores presentes no Fórum têm pedido o apo iode seus pares à agenda de Guedes.

Aos olhos do mercado, a agenda econômica é a única saída para que o Brasil volte a crescer e oferecer boas oportunidades de negócios.

A avaliação é a de que, após quatro anos em marcha lenta, sendo dois de recessão, o Brasil precisa voltar acresce romais rápido possível. Turbulências só atrasariam a recuperação. E este seria um bom momento, já que no México, o outro foco de investidores na América Latina, acaba de assumir um governo visto como pouco favorável ao mercado.

Sobre os recursos das privatizações, Guedes já apresentou diferentes estimativas, de R $700 milhões a R$1 trilhão. Um estudo do Tesouro Nacional entregue a Guedes logo após as eleições projetava uma arrecadação de R $802 bilhões durante os quatro anos de mandato de Bolsonaro.

O programado governo prevê que os recursos arrecadados coma venda de ativos poderiam reduzir o esto queda dívida pública em 20%. Mas é um processo demorado.