O globo, n. 31214, 22/01/2019. Artigos, p. 3
Preso no labirinto
José Casado
22/01/2019
Aos 69 anos, Paulo Guedes, ministro da Economia, começa a desvelar na mesa do jogo de poder a sua maior aposta como ativista do liberalismo. Na gélida Davos, Suíça, apresentará o projeto de uma “frente única” de conservadores e liberais-democratas para um programa liberal no Brasil.
Num dos textos publicados no GLOBO no final de 2017, sugeriu o desmonte do “Leviatã moldado pelo nacionalismo estatizante do regime militar”. Na travessia do tempo, ressaltou, ele “acabou —quem diria — aparelhado pelos petistas”.
“Esse aparelho de Estado”, prosseguiu, “antes dirigido por uma tecnoburocracia administrativa de comando central com foco em infraestrutura, foi saqueado por grupos de interesse corporativo e partidos políticos desidratados pela concentração de recursos no governo central. O capitalismo de Estado dos militares tornou-se o capitalismo de quadrilhas dos social-democratas.”
Guedes seduziu um de seus leitores, Jair Bolsonaro, na época candidato à procura de uma ideia.
A eficácia política dessa ideia de uma “frente” de conservadores e liberais-democratas será testada em temas como a reforma da Previdência, a partir da segunda-feira, 4 de fevereiro. É quando o Congresso começa a decidir sobre os limites da ação governamental na desmontagem desse “legado” do regime militar.
Já é possível perceber Guedes se chocando contra paredes do próprio labirinto. Há três semanas prometeu amputar parte dos “braços armados” do capitalismo de Estado, como define o gigantismo dos três bancos públicos, donos de metade do crédito disponível na praça.
Seu dilema é como decepar o segmento financeiro do setor público sem alternativa à subversão ainda maior do ambiente de negócios no país. O risco é o de estimular mais, e exponencialmente, a concentração na tesouraria de três bancos privados (Itaú, Bradesco e Santander).
Se Guedes já encontrou a saída, deveria indicá-la o mais rapidamente possível. Sobram dúvidas, e isso nunca é bom para os negócios no Brasil ou na Suíça.