O globo, n. 31125, 23/01/2019. Economia, p. 21

Bolsonaro: Brasil fica no Acordo de Paris ‘por ora’

Vivian Oswald

23/01/2019

Presidente fez a afirmação a grupo de executivos, mas falta de clareza em discurso sobre meio ambiente é criticada. Nos bastidores, governo avalia que país já faz o suficiente para preservar recursos naturais e, mesmo assim, é muito cobrado

O Brasil fica no Acordo do Clima até segunda ordem. Foi isso o que informou o presidente da República, Jair Bolsonaro, a um grupo de executivos com quem jantou na noite de ontem em Davos, na Suíça. Ele afirmou que o país, “por ora”, continuará signatário do entendimento assinado por mais de 150 países em Paris em 2016 para reduzir emissões de gases que causam o aquecimento global. A pergunta dos executivos, no entanto, talvez tenha sido uma das várias que ficaram sem resposta durante o curto discurso proferido pelo presidente no plenário do Fórum Econômico Mundial.

Bolsonaro foi criticado por não ter se comprometido enfaticamente com o meio ambiente com otantos esperavam, ou cobravam. Recentemente, o governo chegou a dizer que deixaria o acordo, mas acabou voltando atrás. O discurso de ontem do presidente deixa claro que o país não pretende sacrificar seu desenvolvimento para se comprometer com mais do que deva dar em termos de proteção ao ambiente. Este é um assunto sobre o qual integrantes da equipe de Bolsonaro são reticentes.

Há no governo uma percepção de que o Brasil fez muito mais pelo clima que outras nações, mas é mais cobrado. Que os países ricos, depois de “queimarem todas as suas florestas para se desenvolver, agora cobram medidas muito mais duras”, disse um integrante da comitiva, destacando que todos têm responsabilidade. “Olha aqui em volta, no caminho para Davos, as florestas são todas de pinus”, afirmou.

Jornalistas estrangeiros criticaram a falta de clareza do presidente ao tratar do assunto. Para a secretáriageral da Federação Internacional para Direitos Humanos, Debbie Stothard, o meio ambiente é um tema muito caro ao Fórum. No relatório de Riscos 2019, divulgado pela organização, a mudança do clima é apontada como um dos grandes fatores de risco para o crescimento econômico.

— Sabendo das suas fortes posições anti-LGBT, antidireitos humanos, anti-indígena, nós consideramos que associar-se ao seu programa de exploração dos recursos naturais e biodiversidade é basicamente associar-se a uma sentença de morte para a integridade ecológica do Brasil, para povos indígenas e o meio ambiente global — disse Stothard. — E ele não respondeu sequer à pergunta sobre meio ambiente do professor Klaus Schwab (fundador do Fórum ). Deveria saber que num fórum como esse ,é uma pergunta de extrema relevância.