O globo, n. 31209, 17/01/2019. País, p. 8

 

Ministro quer isentar quatro países de visto

Jussara Soares

Patrik Camporez

17/01/2019

 

 

Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão estão na lista do titular da pasta do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio; ele também pretende usar o Rio de Janeiro como um exemplo para a expansão do setor no Brasil

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, pretende implementar medidas que poderão atrair mais visitantes ao Brasil no curto prazo. Ele afirma que já está avaliando os procedimentos necessários para propor a retirada da exigência de visto a turistas de quatro países: Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão. O tema já passa por análise conjunta de técnicos do Turismo e do Ministério das Relações Exteriores.

— São países com risco imigratório baixo, ótimos em turistas, bons emissores de gastos e que não têm problemas consulares. Nossa expectativa é potencializar o turismo e, consequentemente, a geração de emprego e renda no Brasil – afirma o ministro.

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro procura ajustar sua política externa em relação à China, o maior parceiro comercial do Brasil, o ministro do Turismo também manifesta o desejo de facilitar a emissão de vistos para turistas chineses, exigindo deles apenas o documento eletrônico. A medida, no entanto, ainda passa por estudos.

Marcelo Álvaro argumenta que a China, como um dos principais polos de turismo do mundo, não pode ficar de fora das novas medidas do governo.

O Rio de Janeiro pode ser usado como espécie de laboratório do governo para a implementação de um conjunto de políticas públicas que fortaleçam o setor a partir do combate à violência. O ministro vem discutindo com o ministro da Justiça, Sergio Moro, a criação de um grupo interministerial para lidar com os graves problemas de segurança que impactam o número de visitantes ao Brasil.

Em uma conversa recente com Moro, o ministro diz ter citado o exemplo da Colômbia, que conseguiu, com investimento em inteligência policial e políticas sociais, superar o passado de violência dos cartéis de droga para se tornar um dos destinos turísticos mais procurados dos últimos anos na América Latina.

— Obviamente a segurança pública é fundamental para que a gente consiga atrair turistas estrangeiros para o Brasil. O ministro Moro recebeu de forma muito aberta a proposta de estudar os casos de cidades da Colômbia e se disse disposto até a implantar alguns pilotos no Brasil. O Rio poderia receber esse piloto. Estamos estudando o assunto —disse Marcelo Álvaro.

As experiências de Bogotá e Medelin seriam os “guias” do trabalho que o governo estuda fazer no Rio.

— São modelos exitosos (na Colômbia) que tiraram aquelas duas cidades do caos e hoje são referências mundiais em relação a urbanismo e segurança pública. A própria segurança cidadã potencializou o turismo de forma exponencial. A segurança pública precisa ser tratada com o braço duro do Estado, com repressão, mas também com o braço social, para que a gente possa conseguir dar uma nova oportunidade para adolescentes e jovens que vivem nas comunidades —disse o ministro.

O trabalho de reorganização da segurança, um dos grandes desafios do governo Bolsonaro, não deve amenizar as dificuldades para o Turismo no curto prazo. Um dos principais destinos de visitantes no litoral, o Ceará sofre desde o início do ano com uma onda de ataques criminosos ordenados por facções que dominam os presídios no estado.

Deputado federal mais votado por Minas Gerais, com forte influência na bancada evangélica, Marcelo Álvaro estabeleceu, ao assumir a pasta, a meta audaciosa de aumentar, em quatro anos, em US$ 21 bilhões a receita do turismo no Brasil. Para isso, ele aposta em duas frentes: aumentar o contingente de turistas estrangeiros e criar condições para o brasileiro viajar dentro do próprio país.

US$ 18 bilhões

Pelos cálculos do ministério, é possível triplicar a receita anual com turistas estrangeiros, de US$ 6 bilhões para US$ 18 bilhões. Em outra frente, a meta é reter metade da receita deixada pelos brasileiros no exterior, melhorando as condições de turismo interno.

A pasta é uma dos mais enxutas da Esplanada. Funciona deforma agregada no segundo andar do Ministério de Minas e Energia. ,Mesmo assim, Marcelo Alvaro diz que há espaço para corte de gastos e que, assim como Bolsonaro, pretende governar pelo exemplo:

— Estamos adotando uma série de mudanças de austeridade, fazendo revisão de todos os contratos de marketing, de TI e com terceirizados. Vamos propor um enxugamento de 25% a 30% ainda nos primeiros cem dias de governo. Ele pretende “colocar o turismo no centro da agenda econômica” do Brasil.

—Bolsonaro enxergou isso ao manter o ministério.