O globo, n. 31200, 08/01/2019. Economia, p. 18

 

Bolsonaro quer abrir contratos de ‘amigos do rei’

Eduardo Bresciani

Jussara Soares

Marcello Corrêa

Gabriela Valente

08/01/2019

 

 

Em cerimônia de posse dos chefes de Caixa, BB e BNDES, presidente promete tornar públicos acordos suspeitos de governos anteriores com bancos estatais. Guedes diz que, no passado, máquina de crédito foi desvirtuada

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que vai dar publicidade a contratos considerados suspeitos celebrados entre bancos públicos e o que ele chamou de “amigos do rei”. Durante cerimônia de posse dos novos presidentes da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães; do Banco do Brasil, Rubem Novaes; e do BNDES, Joaquim Levy, Bolsonaro voltou a afirmar que abrirá o que chama de caixa-preta dos contratos.

— Tenho falado durante a pré-campanha, campanha e agora que esses jovens que estarão à frente da política econômica: transparência acima de tudo. Todos os nossos gastos terão que ser abertos ao público. E o que ocorreu no passado também. Aqueles que foram a essas instituições por serem amigos do rei buscar privilégios, ninguém vai perseguir, mas esses contratos tornar-se-ão públicos — disse Bolsonaro. — Nós não podemos errar. Se errarmos, você sabe quem poderá voltar.

Na mesma linha, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que as funções dos bancos públicos foram desvirtuadas nos últimos anos. Guedes chegou a dizer que a Caixa foi vítima de “saques e assaltos” e prometeu abrir a caixa-preta de contratos firmados nos últimos anos:

— A Caixa Econômica Federal foi vítima de saques, fraudes e assaltos de recursos públicos, como vai ficar óbvio à frente, quando essas caixas-pretas começarem a ser examinadas.

O ministro afirmou ainda que os bancos públicos perderam com uma “aliança perversa” e que os novos presidentes estavam assumindo para “fazer a coisa direito e acabar com a falcatrua”:

— A máquina de crédito do Estado sofreu desvirtuamento. Perderam-se os bancos públicos através de uma aliança perversa de piratas privados, democratas corruptos e algumas criaturas do pântano político. Esses presidentes vão assumir sabendo disso, vão fazer a coisa funcionar direito, da forma certa. Acho que o time comunga dessa filosofia, que é a filosofia do presidente, de fazer a coisa direito, de acabar com a falcatrua.

Menos recursos públicos

No evento, Bolsonaro brincou que Guimarães, Novaes e Levy são os “homens do dinheiro”.

— Só que, dessa vez, o dinheiro do bem—acrescentou.

Guedes reforçou a mensagem durante o discurso realizado na cerimônia de transmissão de cargo do BB . O ministro voltou a falar que o governo deve combater a apropriação de instituições públicas por setores da sociedade. Disse que isso ocorreu nas gestões civis, mas também na militar:

— O Estado brasileiro foi ocupado, e cada grupo de interesse pegou um pedaço, uma teta, sempre perguntando o que pode tirar. Nosso grupo tem outra mentalidade.

Levy afirmou que o balanço da instituição ainda tem um volume exagerado de recursos da União e que é preciso fazer uma adequação do retorno que a população recebe do dinheiro público aplicado. No passado, o governo aumentou a dívida pública para repassar esses recursos ao banco, que cobrava dos empresários juros subsidiados. A indicação dada pelo novo comandante do BNDES é que a instituição vai no caminho oposto: diminuir o volume de recursos públicos no balanço do banco.