Título: FMI diz que euro está em perigo
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Fonte: Correio Braziliense, 19/07/2012, Economia, p. 13

Bruxelas — O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu que a sobrevivência da Zona do Euro corre perigo e pediu ao Banco Central Europeu (BCE) uma ação mais decisiva no enfrentamento da crise, por meio da redução de taxas de juros, provisão de maior liquidez às economias e compra de títulos dos países bloco. "A crise econômica na região alcançou um nível crítico que gera dúvidas sobre a continuidade do grupo", advertiu a instituição, em um relatório publicado ontem.

O documento recomenda ainda a formação imediata de uma união bancária na região e defende a "mutualização" das dívidas soberanas, ainda que de forma limitada, com a emissão de títulos de responsabilidade conjunta dos vários países da Zona do Euro. "Os laços negativos entre as finanças dos estados, os bancos e a economia real são mais estreitos que nunca", afirma o relatório. De acordo com o Fundo, a economia do bloco monetário deve encolher 0,3% neste ano, recuperando uma taxa de crescimento muito modesta, de 0,7%, em 2013.

O diagnóstico reforça a pressão sobre o governo da Alemanha, que, apesar do agravamento cada vez maio da crise europeia, permanece radicalmente contrário à proposta de que o BCE possa fazer compras diretas de papéis emitidos por governos e resiste à redução de juros e à criação dos eurobônus.

Para o governo alemão, os eurobônus trariam mais prejuízos que benefícios ao seu país. Economia mais sólida da região, a Alemanha tem conseguido refinanciar sua dívida a taxas negativas, ou seja, com os investidores aceitando perder parte do dinheiro para mantê-lo no que consideram uma aplicação segura. Enquanto isso, a Espanha vem pagando quase 7% ao ano para rolar seus títulos no mercado. Ao receber garantias, tanto das economias mais fortes quanto das mais fragilizadas, os bônus comuns poderiam reduzir os juros para a Espanha, por exemplo, mas elevariam os custo do tesouro alemão.

Incerteza Ontem, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, disse estar otimista sobre o futuro do projeto europeu, embora não esteja certa de que ele funcionará, conforme entrevista divulgada no site de seu partido, o conservador CDU. "O projeto europeu ainda não está construído de maneira a nos garantir que tudo funcionará bem. Isso significa que precisamos continuar trabalhando. Temos muito a fazer, mas sou otimista e acredito que conseguiremos", afirmou a chanceler.

Merkel, no entanto, reafirmou que a saída da crise está nas políticas de austeridade adotadas pelos governos para equilibrar suas contas e restaurar as condições para que as economias voltem a crescer. "Alguns países na Europa ainda têm muito trabalho a fazer (para recuperar a confiança dos mercados) e superar a crise da dívida e a crise da competitividade", afirmou.

» Socorro a bancos

Para o FMI, o BCE teria que montar defesas contra a escalada da crise, com um programa de injeção de liquidez nas economias. Por isso, a instituição recomenda novas operações de empréstimo de curto prazo aos bancos europeus. "Levando em conta que a inflação está fraca e tende a diminuir, o BCE pode reduzir suas taxas de juros e tomar outras medidas não convencionais visando amenizar a pressão sobre alguns mercados", diz o relatório.