Correio braziliense, n. 20312, 31/12/2018. Política, p. 2

 

Estresse a 24h da posse presidencial

Rodolfo Costa e Rosana Hessel

31/12/2018

 

 

GOVERNO EM TRANSIÇÃO » No início da noite, o governador Rollemberg reclamou da presença "desnecessária" de tanques no Setor de Rádio e TV Sul, e defendeu que a PM teria condições de garantir a segurança da área. Exército recuou e retirou os Urutus do local

Os ensaios para a posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), provocaram tensão entre o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), e o comando do Exército. Durante os derradeiros acertos para a cerimônia, o ainda chefe do GDF, à véspera do último dia de mandato, mandou retirar os blindados que se posicionaram na tarde de ontem em frente à Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O pedido foi prontamente acatado pelo Exército e os veículos começaram a se retirar por volta das 21h30.

O governador ficou incomodado com a situação. No Twitter, avaliou como “desnecessária” a presença dos tanques no Setor de Rádio e TV Sul. Os blindados foram posicionados no local para, segundo o Exército, garantir a segurança da transmissão da cerimônia de posse. Para Rollemberg, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) tem todas as condições de proteger a difusão das imagens para o Brasil e o mundo. “O Brasil pode confiar nas polícias do DF. São as melhores do Brasil”, disse ao Correio.

Pessoas próximas de Rollemberg garantem, no entanto, que ele ficou mais do que incomodado. “Ficou revoltado. O governo não havia sido comunicado”, disse um interlocutor. O governador ligou imediatamente para o secretário de Segurança Pública do DF, Alessandro Moretti, para que tomasse providências. A ordem era solicitar ao Comando Militar do Planalto a imediata retirada dos Urutus.

Diferentemente de Rollemberg, a direção da EBC foi comunicada pelo Comando Militar do Planalto e pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de que a sede seria um dos pontos estratégicos para transmissão do sinal da posse para o pool das emissoras do Brasil e do mundo. E, para garantir a segurança, os responsáveis pela ação definiram a área para receber os veículos blindados. “Inclusive, os funcionários foram informados que, por conta dos blindados, o estacionamento não poderia ser utilizado nos próximos dois dias”, afirmou um técnico.

Os militares minimizam a retirada dos tanques e garantem que não houve interferência de Rollemberg. O coronel Gilberto da Silva Brevilieri, chefe do Estado-Maior da 3ª Brigada de Infantaria Mecanizada, batalhão ligado ao Comando Militar do Planalto, disse que agiram de acordo com uma ação integrada do coordenador de segurança de área (CSA) local, general Marco Antônio Martin da Silva. O militar reforçou, no entanto, que a presença dos blindados fazia parte de um ensaio e os classificou apenas como “equipamentos”. “Não estavam ali por outro motivo que não fosse promover a segurança. Era apenas um treinamento. Hoje, foi um dia de ensaio, o segundo e último dia”, declarou.

Em nota, o Sindicato dos Jornalistas do DF criticou a presença dos blindados. “Ficamos bastante espantados com essa tentativa de demonstração de força com manobras do Exército. O uso do estacionamento da EBC é exagerado, desnecessário, inadequado e inédito”, comunicou.