Título: Racismo contra garota será apurado
Autor: Ferreira , Pedro
Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2012, Brasil, p. 11

Belo Horizonte %u2014 A batalha por Justiça da atendente de telemarketing de 41 anos que denunciou racismo contra sua filha, de 4 anos, começa a ter resultados. Na segunda-feira, a Polícia Civil ouvirá o depoimento de testemunhas. Uma delas é a professora Denise Cristina Pereira Aragão, que no último dia 10 presenciou uma mulher invadir o Centro de Educação Infantil Emília, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e aos gritos chamar a menina de %u201Cnegra e preta horrorosa e feia%u201D. A mulher agrediu verbalmente a criança porque ela foi escolhida como par de seu neto em uma festa junina.

Indignada com a falta de ação da dona e diretora da escola, que não tomou qualquer providência para defender a aluna e tentou abafar o caso, Denise Cristina pediu demissão e procurou os pais da menina para denunciar a prática racista. Além dela e da mãe da criança, o delegado Juarez Gomes vai ouvir a diretora, Joana Reis Belvino, e a acusada, que não teve o nome divulgado. Uma quinta testemunha será ouvida na terça-feira, quando o inquérito será concluído e encaminhado à Justiça.

A ministra Luiza Bairros, titular da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, demonstrou-se preocupada com a possibilidade de uma criança negra ser agredida desta forma. %u201CPor outro lado, nos chama atenção para um problema ao qual estamos atentos, que é o texto do novo Código Penal. É a dificuldade de tipificar e provar os crimes de racismo que acaba resultando no baixo número de punições. Esperamos que não seja o caso%u201D, disse a ministra. Ela informou que está elaborando um documento para propor alterações no Código que não permitam a flexibilização da tipificação do crime de racismo ou sua diluição entre outros delitos relacionados à discriminação de gênero ou de orientação sexual, por exemplo.

Denúncias Em Minas Gerais, denúncias de racismo aumentaram 9,3% de janeiro a junho deste ano, com registro de 129 ocorrências, contra 118 casos no mesmo período do ano passado. De acordo com a coordenadora de Promoção da Igualdade Racial de Contagem, Maria Goreth Costa Heredia Luz, esse tipo de crime acontece quase todos os dias, mas as pessoas se calam e não denunciam por medo de represália ou vergonha. %u201CSofrem caladas%u201D, disse Maria Goreth, que está reforçando a campanha Por uma infância sem racismo nas escolas públicas, particulares e movimentos negros de Contagem. %u201CSou educadora e percebo que isso acontece toda hora entre os alunos na sala de aula, mas os professores não sabem como agir nessas horas%u201D, disse.