O globo, n. 31196, 04/01/2019. País, p. 11
Moro pretende atuar em conjunto com MPs estaduais
Patrik Camporez
04/01/2019
Ministro articula integração com procuradores para combate ao crime organizado e a facções que atuam em presídios
O ministro da Justiça, Sergio Moro, quer contar com a expertise de procuradores e promotores dos ministérios públicos estaduais no combate ao crime organizado e a facções criminosas que atuam de dentro dos presídios. Para isto, o ministro e representantes do Ministério Público (MP) já articulam formas de integrar a pasta da Justiça aos procuradores e promotores por meio de “canais eficientes” de troca de inteligência e informações.
Para tratar do tema, Moro se encontrou no último dia 18 com Benedito Torres Neto, presidente do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG). A reunião aconteceu no gabinete de transição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. Além de Moro e Torres Neto, participaram do encontro outros quatro procuradores gerais de Justiça.
—Foi um primeiro contato onde falamos do alcance do MP no Brasil em termos de capilaridade; são 13 mil promotores e procuradores, de Leste a Oeste. Vamos fazer essa integração para combater essa violência urbana terrível que assola o Brasil e para combater o crime organizado — afirmou, ao GLOBO, Benedito Torres.
As instituições pretendem buscar meios para possibilitar a troca instantânea de informações e de inteligência, uma “parceria inédita” — na avaliação de Moro e dos procuradores — no combate à criminalidade. A justificativa é que, diante do tamanho continental do país e das peculiaridades do crime nas diferentes regiões, a colaboração do MP seria fundamental para os propósitos de Moro à frente do Ministério da Justiça.
Ramificações
Torres Neto disse que toda a discussão no CCBB foi embrionária, mas que outros encontros vão acontecer em breve para detalhar melhor como se dará a integração.
Ele defende que promotores e procuradores poderão ajudar a combater facções que, hoje, transcendem a divisa dos estados. Para Torres Neto, uma determinada organização criminosa, com ramificações em vários estados, poderá ser combatida de maneira integrada.
—Muitas vezes algum estado está combatendo essa facção de maneira isolada e o outro estado não sabe. Por isso a necessidade de compartilhar os dados de inteligência. Vamos ter oportunidade de desvendar muitas outras situações. Teremos um trabalho unificado, e buscaremos um resultado mais eficaz com relação à política criminal. A ideia é fazer a integração de todas as forças que combatem a criminalidade no país. O Moro está aberto, a reunião foi muito importante e alcançaremos os objetivos.
Na reunião no CCBB, também esteve presente o subprocurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Marfan Vieira. Ele comanda no CNPG o grupo responsável por elaborar propostas para a nova Lei de Improbidade Administrativa que tramita no Congresso.
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Ministro do GSI rejeita título de ‘guru’ de Bolsonaro
Eduardo Bresciani
Karla Gamba
04/01/2019
‘O último já foi até em cana, que era o João de Deus’, diz general Heleno, referindo-se ao médium acusado de abuso sexual
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, refutou ontem o título de “guru” do presidente Jair Bolsonaro. O termo foi usado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Heleno brincou que o “último guru” foi preso, fazendo referência ao médium João de Deus.
— Apague esse negócio de guru. O último já foi até em cana, que era o João de Deus —afirmou Heleno.
O general é um dos principais conselheiros de Bolsonaro. O presidente queria tê-lo como seu vice, mas o partido de Heleno, o PRP, rejeitou a aliança.
O ministro concedeu entrevista após uma visita de Bolsonaro às instalações da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI, que fica em um anexo do Palácio do Planalto.
Durante a visita, segundo Heleno, foi apresentado ao presidente os procedimentos da rotina de segurança e parte das instalações como armamentos, simuladores de tiros e componentes do comboio presidencial.
O ministro disse que Bolsonaro tinha um “sentimento” grande de quando podia se expor ou não mas que um dia esse “sentimento falhou”, se referindo à facada que ele levou durante a campanha.
—Com o tempo passando talvez podemos ter algum trabalho para contê-lo, porque é da personalidade dele — comentou o ministro do GSI.
Heleno negou que a segurança de Bolsonaro tenha sido reforçada ou que exista algum procedimento especial e diferente dos presidentes que o antecederam:
— Não existe nenhuma medida extra. Agora, na posse, diante de algumas informações que nós tivemos sobre possíveis atentados, houve um endurecimento e essa precaução foi tomada. No dia a dia isso vai acontecer nos padrões normais, até porque na Presidência nunca tivemos nenhuma ocorrência grave —concluiu.