Título: Alerta contra alta dos preços
Autor: Cristino , Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2012, Economia, p. 13

O Banco Central não vai ter muito tempo para comemorar a inflação no centro da meta este ano. Com a economia se acelerando no segundo semestre, a atividade mais robusta deverá pressionar a inflação em 2013, alertou, ontem, em relatório, o Fundo Monetário Internacional (FMI). Por isso, o governo deveria começar a desmontar o arsenal de estímulos dados ao consumo, substituindo-os por incentivos ao crescimento da poupança interna e aos investimentos. Segundo o organismo, a reversão do processo de queda dos juros, neste e no próximo ano, será essencial para manter a inflação na meta de 4,5% em 2013. "O ponto fundamental a ser observado é o momento de iniciar a normalização do ciclo (monetário) para garantir que a inflação volte novamente para a meta entre 2013 e 2014", diz o documento, assinado pelo chefe da missão do FMI para o Brasil, Vikram Haksar.

Assim como o Branco Central, o FMI, comandado pela francesa Christine Lagarde, acredita que a economia brasileira vai crescer mais de 4% no último trimestre, graças, principalmente, à forte demanda doméstica, que vem se beneficiando da redução das taxas de juros — a Selic já caiu 4,5 pontos percentuais desde agosto do ano passado —, do desempenho favorável do mercado de trabalho e do aumento da renda dos trabalhadores.

Segundo Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, o aviso do FMI já está mais do que claro para o Banco Central. "Na ata da última reunião do Copom, o BC não deixou dúvidas de que o espaço para continuar reduzindo os juros caiu drasticamente", observou. Ele diz, porém, que, mesmo com várias pressões inflacionárias no horizonte, entre elas a alta das commodities no mercado internacional, a inflação não deve escapar da zona de tolerância. "Pode ficar um pouco acima do centro da meta no ano que vem", admitiu.

Desequilíbrio

Apesar de reconhecer aspectos positivos da economia brasileira, entre eles a robustez do sistema financeiro, o FMI destaca a falta de equilíbrio entre investimentos e o elevado nível de consumo, que tem gerado um endividamento preocupante. Com os níveis de inadimplência em alta, o Brasil precisa estimular a poupança do governo e da população, além de encorajar o investimento, diz o relatório. "O deslocamento da demanda do consumo para o investimento e as exportações líquidas ajudará a garantir crescimento forte e equilibrado à frente e dará suporte à competitividade", afirma o documento.

O Fundo observa que o Brasil tem taxas de investimento e de poupança menores que os demais países do G-20. Se elas aumentarem, o país reduzirá a demanda por capital externo, o que poderá enfraquecer a taxa de câmbio e impulsionar a competitividade da economia.

O relatório aponta que a reforma das aposentadorias do setor público — o fundo de pensão para os servidores dos três poderes foi recentemente aprovado —, ao cortar "generosos benefícios", deve encorajar a poupança privada e reduzir a pressão sobre os gastos do governo. O Brasil também precisa desenvolver mecanismos de financiamento de longo prazo como alternativa aos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo o FMI, o BNDES deveria "gradualmente desengajar-se de atividades comerciais e do financiamento às empresas de primeira linha", que têm acesso a outras fontes de crédito.