Correio braziliense, n. 20302, 21/12/2018. Cidades, p. 20

 

A capital das mulheres

Jéssica Eufrásio

21/12/2018

 

 

Pdad 2018 mostra que a maioria dos brasilienses é do sexo feminino, nasceu no DF, tem 30 anos e trabalha. Projeção é de que a população cresça 17,2% até 2030

 

Mulher, parda, brasiliense nata, na faixa dos 30 anos, solteira e inserida no mercado de trabalho. Esse é o perfil da maioria da população do Distrito Federal em 2018, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad). O levantamento, realizado a cada dois anos pela Companhia de Planejamento (Codeplan), apresenta um diagnóstico demográfico, social, econômico e urbano do DF. Com dados coletados entre 12 de março e 18 de outubro, o estudo ocorreu em 28.720 domicílios, de um universo de 928 mil, nas 31 regiões administrativas. O resultado contempla a realidade do total de habitantes da capital do país, que passa de 2,9 milhões e deve atingir 3,4 milhões em 2030 — aumento de 17,2%.

A comparação dos índices de 2018 com os dados da última pesquisa, a Pdad 2015, revelou instabilidade e como a crise econômica nacional afetou a vida de quem mora no DF. De um modo geral, os salários permaneceram estáveis no período. No entanto, nos últimos quatro anos, chamam a atenção os aumentos no número de trabalhadores que passaram a trabalhar sem carteira assinada, a quantidade de alunos com menos de 25 anos que ingressou em escolas da rede pública e a porção de famílias que vivem com rendimentos de até R$ 1 mil (leia Levantamento).

Os índices ainda mostraram que, apesar da recessão, os moradores do DF buscaram formas de se adaptar. Proprietária de um salão de beleza, Daniela Sabino, 30 anos, conta que, por sorte, não enfrentou muitas dificuldades nos últimos quatro anos, quando conseguiu lidar bem com as finanças. “Nesse aspecto, a minha vida melhorou, mas porque consegui correr atrás. Antes, eu era empregada doméstica com carteira assinada. Depois, entrei para a informalidade. Comecei a fazer faxina. Ainda assim, passei a ganhar mais. Agora, estou com o meu próprio negócio”, contou a moradora do Riacho Fundo 2.

 

Apelo

Daniela também se encaixa em um grupo que chamou a atenção pela predominância no DF: o dos lares compostos apenas por mães e filhos. Famílias como a da empresária, que mora com os dois filhos, representam 18,1% dos lares brasilienses, ficando atrás apenas daqueles compostos por um casal com um filho (18,9%). Residente na cidade com maior projeção de crescimento populacional de 2015 a 2020, ela espera por mais investimentos em segurança e educação. “Muita gente abre mão de trabalhar porque não tem alguém que possa cuidar dos filhos. E, como mulher, a segurança também deixa a desejar. Não me sinto tão segura aqui”, relatou.

Para Jusçanio Souza, economista e gerente de pesquisas socioeconômicas da Codeplan, os resultados da Pdad são relevantes para direcionar a atividade governamental e fornecer informações relevantes para o desenvolvimento das cidades. “O DF é um local com surgimento de áreas novas e, quando isso acontece, você tem todas as demandas por equipamentos e apelos da sociedade. Por se tratar de uma cidade de 58 anos e em processo de expansão da área urbana, essa situação se materializa em indicadores”, analisa o especialista.