Correio braziliense, n. 20282, 01/12/2018. Política, p. 3

 

"Malta não vai ficar abandonado"

01/12/2018

 

 

Após convidar a pastora Damares Alves, uma assessora do senador Magno Malta (PR-ES), para o Ministério dos Direitos Humanos, e frustrar a expectativa de que pudesse convidar o parlamentar para uma pasta, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, disse que o aliado não ficará “abandonado”, mas que não deve assumir um ministério.“O Magno Malta é uma pessoa que me ajudou muito, que eu respeito. Não vai ficar abandonado, ele tem como participar do governo em outra função”, disse Bolsonaro em Cachoeira Paulista (SP), onde visitou o Santuário da Canção Nova. A função para Magno Malta, no entanto, não está definida. “Existe campo para ele, sim. Mas, infelizmente, os ministérios estão se esgotando”, declarou.


Bolsonaro procurou afastar sua responsabilidade após deixar a bancada evangélica e pastores descontentes com a falta de convite a Magno Malta. “Não fiz campanha prometendo absolutamente nada para ninguém, pretendemos aproveitar as boas pessoas, agora não podemos dar ministério para todo mundo”, disse.Em entrevistas que deu no Vale do Paraíba, Bolsonaro afirmou que faltam dois ministérios para oficializar os titulares, fazendo referência às Pastas do Meio Ambiente e dos Direitos Humanos. Questionado sobre a quantidade de ministérios no governo, Bolsonaro afirmou que ficará “na casa dos 20” e próximo à metade do quadro atual. Na campanha, ele havia falado em reduzir para 15 pastas. Ele afirmou também que poderá escolher mais militares para o governo e que as indicações ocorrem com base no currículo dos indicados.

O convite à pastora Damares provocou mal-estar no setor evangélico. Para boa parte dos 88 deputados federais e quatro senadores da bancada evangélica, a escolha da assessora “atravessou” os líderes do grupo e foi uma “afronta” e “ingratidão” a Magno Malta. Auxiliares da equipe de Bolsonaro disseram que a própria Damares teria demonstrado desconforto quando recebeu o convite do presidente eleito na última quarta-feira no CCBB, sede do governo de transição.

Para integrantes da bancada evangélica, qualquer convite a Malta a partir de agora é “tardio” e não deveria ser aceito por uma questão de “bom senso”. Não se cogita, porém, rompimento. Malta enfrenta forte resistência do núcleo militar do governo de transição. Os generais da reserva que compõem o grupo reiteraram a Bolsonaro que o senador não agrega à equipe ministerial.

Pessoas próximas de Malta avaliam que o senador se desdobrou na campanha de Bolsonaro, especialmente depois do atentado sofrido pelo então candidato à Presidência em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro, que o tirou das ruas. No começo da semana, Bolsonaro pediu à bancada evangélica que apresentasse uma lista tríplice de nomes para a pasta da Cidadania. Numa decisão que não foi unânime, a bancada acabou entregando os nomes ao presidente eleito, que, no entanto, anunciou o nome do deputado gaúcho Osmar Terra (MDB), para melhorar o trânsito no partido.

Integrantes do grupo avaliaram que houve um desgaste desnecessário e injusto. O coordenador da bancada, Hidekazu Takayama (PSC-PR), chegou a afirmar que retirou os nomes indicados para integrar o novo governo. Um dos poucos que quiseram falar sobre a relação da bancada com o futuro governo, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), admitiu que há um “mal-estar” diante desse vaivem da transição. “É lógico que isso provoca um mal-estar. Mas o governo está no seu início, nem começou”, contemporiza o parlamentar.

Entre os evangélicos, Sóstenes é dos que avaliam que não cabe à bancada pleitear cargos, pois, em votações de determinados projetos, não há consenso no grupo, especialmente em propostas das áreas política e econômica. “Avalio que as frentes não existem no Parlamento para essa finalidade.”