Título: Um país em agonia
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Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2012, Economia, p. 14

A Espanha voltou a assustar os mercados, ontem, depois que a região autônoma de Valência pediu uma ajuda de 18 bilhões de euros a Madri para cumprir seus compromissos e o governo admitiu que a recessão que assola o país e mantém um em cada quatro trabalhadores sem emprego deve se prolongar pelo menos até 2013. Segundo projeções divulgadas pelo ministro do Tesouro, Cristóbal Montoro, a economia deverá ter uma contração de 0,5% em 2013, depois de encolher 1,5% neste ano.

De acordo com as estimativas do governo, que serviram para elaborar o orçamento do ano que vem, o crescimento só deverá voltar em 2014, para quando se espera uma expansão de 1,2%, e em 2015, com uma alta prevista de 1,9%. Por enquanto, a situação espanhola continua sombria. As novas projeções oficiais indicam que a taxa de desemprego, a maior entre os países industrializados, alcançará 24,6% da população ativa neste ano, acima dos 24,3% calculados até agora.

Pressionado pelos credores, o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, conseguiu obter do parlamento, na quinta-feira, a aprovação para um novo pacote de 65 bilhões de euros de cortes de gastos e aumento de impostos, mas enfrenta manifestações cada vez maiores da população, nas ruas das principais cidades, contra o interminável aperto dos cintos, a redução de salários e a queda do padrão de vida.

Socorro Diante dessa sucessão de dados negativos, a Bolsa de Madri desabou 5,82% e o rendimento dos bônus de 10 anos da dívida pública espanhola atingiu o recorde de 7,27% ao ano, nível considerado insustentável e capaz de colocar o país na rota de uma moratória. "As informações que chegam da Espanha estão desanimando os investidores a comprar títulos desse país", afirmou o analista Raj Badiani, da IHS Global Insight. "A sensação é que o governo está ficando sem margem de manobra."

A boa notícia é que os ministros de Finanças europeus aprovaram o aguardado socorro de até 100 bilhões de euros para recapitalizar o sistema financeiro espanhol, medida que poderá salvar o país da completa bancarrota. O governo de Madri afirma que o volume necessário será de até 62 bilhões, mas o montante exato só será conhecido depois de uma auditoria a ser concluída em setembro. De imediato, 30 bilhões de euros ficarão disponíveis para uma eventual situação de emergência.

Em troca da ajuda, os bancos terão que seguir duros planos de reestruturação e colocar os ativos podres — a maioria créditos imobiliários incobráveis — em uma "entidade ruim" a ser criada para fazer o trabalho de faxina do setor. A regulação e a supervisão bancárias serão reforçadas e inspetores da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) poderão vasculhar os livros das instituições. O programa foi elogiado pela diretora do FMI, Christine Lagarde, para quem ele "será uma etapa essencial para devolver o crescimento e a prosperidade ao país".

BCE rejeita garantia grega O Banco Central Europeu (BCE) informou ontem que não vai mais aceitar como garantia os títulos soberanos da Grécia ou outros ativos garantidos pelo governo do país a partir de 25 de julho. A decisão força os bancos gregos a recorrerem aos programas de assistência de liquidez do Banco Central nacional, que são mais caros do que os do BCE em operações regulares. No fim de junho, os empréstimos da autoridade monetária europeia às instituições gregas somavam 74 bilhões de euros. O BCE disse que a exclusão ocorreu devido à validade do regime de garantia, o que significaria que teria de suportar as perdas em caso de calote. A instituição disse ainda que poderá rever a medida dependendo das informações que forem levantadas durante visita a Atenas pelos inspetores da troika — grupo formado pela União Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo próprio BCE.