Título: PSD fica com PT em Minas
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Fonte: Correio Braziliense, 25/07/2012, Política, p. 5

Quase 20 dias após o presidente nacional do PSD e prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, intervir no diretório municipal de Belo Horizonte, no dia 5 deste mês, e impedir a coligação com o PSB do prefeito Márcio Lacerda, a Executiva do partido referendou, na tarde de ontem, todo o processo de intervenção nacional pelo placar de 14 a 1. A sigla aprovou a decisão que havia sido tomada por Kassab e disse sim à candidatura do ex-ministro petista Patrus Ananias. Uma nova comissão provisória do partido vai ser nomeada na capital mineira. O trator de Kassab foi alimentado pelo Palácio do Planalto na tentativa de enfraquecer o pré-candidato tucano à Presidência da República, senador Aécio Neves (PSDB), que apoia a reeleição do prefeito Márcio Lacerda.

A senadora e primeira-vice-presidente do partido, Kátia Abreu, foi a única integrante da Executiva a votar contra a intervenção. Ela deixou no ar a possibilidade de migrar para o PMDB em razão do "caciquismo" de Kassab. O convite já foi feito formalmente pelo vice-presidente da República, Michel Temer. Ontem, ela se esquivou quando questionada se realmente sairia do PSD. "Isso não foi posto no encontro."

Kátia Abreu foi a primeira a deixar a reunião. Saiu fazendo duras críticas à condução do processo. "Acho que este ato é ilegal e arbitrário. A política não é feita apenas de um advogado lendo um relatório, citando incisos e artigos. Nós temos o direito da minoria. Isso é garantido na Constituição." A parlamentar fez questão de ressaltar que se sente confortável com a posição tomada. "Não me sinto derrotada por ter sido o único voto contrário aqui nesta reunião. Democraticamente, o partido agiu mal e estávamos em tempo hoje (ontem) de fazer uma correção a partir de uma convocação correta." Ela se referia ao modo como o partido convocou os integrantes para a reunião de ontem. "Poderíamos ser voto vencido, mas os membros de Belo Horizonte tinham o direito de chegar aqui e fazer a defesa. Recebi um telegrama ontem. Um dos pontos dizia "eleições 2012", mas entendo que intervenção é um assunto específico. A Executiva Nacional pode fazer a intervenção. O que não pode é o presidente fazer isso de próprio punho. Referendaram uma arbitrariedade", atacou.

Kassab minimizou as declarações da senadora e a possibilidade de migração para o PMDB. "Ela é muito querida por todos nós do partido. Ela vai ficar", disse. O prefeito de São Paulo tratou o assunto como uma questão natural e inerente a todos os partidos políticos. "A decisão foi aprovada por 14 votos contra um. Todos conhecem a posição dela. Houve uma manifestação de muito respeito pela senadora. Ela defende com muita transparência. É senadora e tem todo direito e a legitimidade de discordar."

Justiça

Na semana passada, uma corrente do PSD mais alinhada ao PSDB obteve, na Justiça, uma liminar que suspende a decisão de obrigar o partido a se coligar com o PT para disputar as eleições municipais em Belo Horizonte. No entendimento do juiz que concedeu a liminar, a determinação de Kassab não tem validade porque não respeitou o resultado da convenção municipal, que aprovou, em junho, o apoio à reeleição do prefeito Márcio Lacerda. Ontem, o advogado do PSD, Admar Gonzaga, informou que o partido vai recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "A determinação tem respaldo legal e estatutário. Alguém fez uma leitura equivocada do estatuto", alegou.