O Estado de São Paulo, n. 20288, 07/12/2018. Política, p. 3

 

Força-tarefa no Congresso

Rodolfo Costa

07/12/2018

 

 

GOVERNO EM TRANSIÇÃO » Encabeçada por dois deputados federais, equipe de Jair Bolsonaro tentará uma interlocução regionalizada a fim de obter a base de que precisa para aprovação de projetos. Alinhar internamente o próprio PSL é um dos trabalhos

A coordenação política do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), prepara uma força-tarefa para descentralizar as articulações com o Congresso Nacional e construir o apoio para a votação de pautas e reformas prioritárias, como a da Previdência. Não é para menos. Há parlamentares da base e correligionários do pesselista que não estão plenamente convencidos sobre o tema. Para isso, a futura Casa Civil da Presidência da República aposta em uma interlocução regionalizada que ficará a cargo de duas secretarias comandadas pelos deputados federais Carlos Manato (PSL-ES) e Leonardo Quintão (MDB-MG).

O texto da reforma da Previdência que é gestado pela equipe econômica do governo de transição divide parlamentares. Alguns estão mais alinhados com a coordenação chefiada pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e cobram um texto que não favoreça categorias específicas. Outros, sobretudo os mais ligados às carreiras públicas na área da segurança, defendem um ajuste nas regras de aposentadoria mais “light”, que exclua militares, policiais militares e bombeiros.

A chamada base consistente de Bolsonaro, de parlamentares eleitos na esteira do discurso do presidente eleito, conta com 35 congressistas, sendo 30 deputados e cinco senadores, calcula a Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical. Desses, são 12 policiais militares, cinco militares, dois agentes da Polícia Federal e um bombeiro. O deputado eleito Junior Bozzella (PSL-SP) reconhece que a reforma da Previdência precisará ser alinhada internamente. “Não dá para mandar qualquer texto se tem resistência dentro do próprio governo e da base”, ponderou.

O próprio presidente eleito defende uma reforma que seja possível de ser aprovada. Para chegar ao texto ideal e ter uma base capaz de aprovar outras matérias, Manato começou a montar um time de deputados que não conseguiram a reeleição para auxiliá-lo no processo de diálogo com o Congresso. Até o momento, quatro foram escolhidos: Walter Ihoshi (PSD-SP), Laudivio Carvalho (Podemos-MG), Fabio Sousa (PSDB-GO) e Danilo Forte (PSDB-CE).

Outros três ainda podem ser selecionados. A ideia de Manato é trabalhar com uma equipe de cinco a sete deputados que acompanharão as votações e dialogarão com as bancadas partidárias, estaduais, regionais e frentes temáticas. “Todos são indicações pessoais e não partidárias. Estamos construindo uma relação de parceria sem o “toma lá da cá”, afirmou.

O modelo de regionalização tem por objetivo facilitar o diálogo sem “tratorar”. Dessa maneira, Forte fica responsável pelo Nordeste, Sousa por Goiás, e Ihoshi e Carvalho pelo Sudeste. O padrão de articulação é bem avaliado pelo deputado Celso Russomanno (PRB-SP), líder da legenda na Câmara. “É uma forma mais fácil de orientação e convencimento das bases. E pode ajudar no processo de aprovação do enxugamento da máquina pública e da reforma da Previdência”, ponderou.

 

Demandas

A proposta de regionalizar a articulação política também pode ajudar no encaminhamento de demandas junto aos ministérios, admite o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), primeiro vice-líder do partido na Câmara. Mas acredita que, por si só, o modelo não se resolve. “Vai ser preciso clarear o relacionamento da coordenação política com os partidos. Será preciso conversar com os presidentes e líderes em algum momento. Ou é uma lógica regionalizada, ou partidária. Não se governa se não tem base sólida. E a base do governo eleito ainda não me parece tão sólida”, alertou.

A ideia do governo é boa, mas é preciso que os interlocutores tenham credibilidade e autonomia para desempenhar o papel, adverte o deputado e senador eleito Izalci Lucas (PSDB-DF). “A intermediação fica vulnerável quando não tem poder”, ponderou. Outra observação do parlamentar é a ausência de senadores na estrutura do governo de transição. A secretaria que será chefiada por Quintão, um deputado, cuidará da articulação com o Senado. “Acho que o Quintão é bastante articulado, mas poderia ser um senador fazendo esse papel. Não há ninguém da Casa ocupando um ministério e, com certeza, a cobrança deve vir em algum momento”, ponderou. Segundo Manato, a pasta do emedebista deve contar com senadores.