O globo, n. 31206, 14/01/2019. País, p. 8

 

Disputa por cargos ameaça favoritismo de Maia na Câmara

Natália Portinari

Bruno Góes

14/01/2019

 

 

Espaço dado a PSL e PR irritou aliados e afastou siglas de centro-esquerda

A negociação em torno de cargos na mesa diretora e no comando de comissões na Câmara dos Deputados gerou uma dispersão, na última semana, do apoio em torno de Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente que tenta a reeleição. Ele mantém o favoritismo, mas deve contar com alguma oposição na casa.

Com a promessa de entregar a primeira vice-presidência para o PRB e a segunda para o PSL, o líder do PP, Arthur Lira (AL), se sentiu preterido e decidiu lançar uma candidatura própria. O MDB também desembarcou e deve manter duas candidaturas avulsas, as de Alceu Moreira (RS) e Fábio Ramalho (MG). As duas vice-presidências são, hoje, do PP e do MDB.

— Houve um movimento de PR, PRB e PSD para isolar o MDB. E isso não aceitamos — disse Baleia Rossi (SP), líder do MDB na Câmara. — Mas não tem nada a ver com governo. Nossa bancada tem compromisso com a pauta econômica que vai resgatar os empregos de que os brasileiros tanto precisam.

O acordo entre PSL e Maia afugentou deputados de oposição, que ficaram contrariados com o quanto se cedeu ao partido do governo. Além da segunda vice presidência, o PSL deve ficar com a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa, e pleiteia a Comissão de Finanças e Tributação.

Diante disso, em reunião na semana passada, deputados do PSB decidiram que vão fazer oposição a Maia. O PCdoB e o PDT, porém, que em teoria formam um bloco de oposição a Bolsonaro com o PSB desde o fim do ano passado, tendem a apoiar Maia. Os eleitos do PDT se reuniram no último sábado e deliberaram que devem seguir com o apoio ao atual presidente. Os três partidos têm conversas marcadas para esta semana.

Privilegiados

Na chapa de Maia, foram privilegiados PRB, PSL, PSD e PR. O PSD já tem garantida a relatoria da Comissão Mista de Orçamento. O PR, por sua vez, deve manter a primeira secretaria, posição que lida com a gestão administrativa interna da casa. Há 12 partidos que declararam apoio à sua reeleição.

Já o PT está dividido. Alguns deputados tendem a apoiar Maia, mas passaram a sofrer forte resistência interna no partido após o acordo com o PSL. O atual presidente da casa chegou a dizer ao GLOBO que o PT não fará parte do seu bloco e “sabe disso”. A declaração pegou de surpresa alguns deputados. Gleisi Hoffmann, presidente da sigla, não aceita fazer parte do mesmo grupo que o PSL.

— Ele disse que não vamos fazer parte do bloco, mas não descartou nosso apoio —afirma Carlos Zarattini (SP), um dos mais abertos a conversas com Maia. —Vamos avaliar. O mais importante é a gente conseguir estar na mesa (diretora). Nosso problema não está no apoio ao candidato, está em participar da mesa e das principais comissões.

O diagnóstico de deputados do DEM ouvidos pela report age mé ode que o PP demorou para fechar acordo com Maia, o que fez com que o PSD se adiantasse e conseguisse fi carcoma relatoriada Comissão Mista de Orçamento (CMO). O mesmo aconteceu com o PS L, que conseguiu tomara CCJ, desejada antes pelo PP.

PP e MDB têm, respectivamente,37 e 34 deputados eleitos, mas os líderes do DEM veem essas bancadas como pouco coesas e preferem garantir o apoio de PSD e PR, que têm 34 e 33 parlamentares na Casa respectivamente e dão uma garantia maior de votar de forma unificada.

Deputados dos partidos dissidentes, PP e MDB almejam formar um grande bloco de oposição a Maia já de olho em um possível segundo turno.