O Estado de São Paulo, n. 20289, 08/12/2018. Política, p. 2

 

PSL tenta cessar tiroteio interno

08/12/2018

 

 

O PSL definiu um porta-voz para auxiliar na articulação política com o Congresso. O nome escolhido foi o de Junior Bozzella (SP), em reunião, na noite de quinta-feira, pela recém-eleita bancada paulista da legenda na Câmara. Ele vai comandar as conversas em conjunto com a atual bancada nacional do partido. A definição é uma forma de contornar a crise interna exposta após vazamento de uma discussão entre os deputados eleitos Joice Hasselmann e Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). A ideia da liderança é evitar que eventuais desconfortos com parlamentares contaminem a condução de diálogos por espaços para a legenda na Casa.
A convocação foi feita por Bozzella e contou com a participação de oito dos 10 deputados eleitos da bancada em São Paulo.  Os únicos que não participaram foram Eduardo e Joice. Embora não tenha comparecido, o filho do presidente eleito depositou o voto em Bozzella — uma derrota de 9 x 1 para Joice.
O objetivo é criar uma unidade que possibilite ao PSL organizar a comunicação no Parlamento. Bozzella vai auxiliar Delegado Waldir (PSL-GO) nos diálogos. A escolha dele é uma forma de mostrar a Joice que a bancada paulista não aceitará decisões isoladas. A deputada eleita é acusada por Eduardo de “atropelar” as atuais lideranças na Câmara. Ou seja, ele e Waldir. O senador eleito Major Olimpio (PSL-SP) está com as atenções voltadas para o Senado.
A escolha do líder da bancada paulista também é um recado a Joice de que as hierarquias deverão ser respeitadas dentro do partido. O voto da maioria a Bozzella não aconteceu à toa. Ele era do partido antes de Bolsonaro migrar do PSC para o PSL. Por causa disso, é um nome muito respeitado e ligado ao presidente nacional da legenda, Luciano Bivar (PE). “É preciso respeitar o princípio de antiguidade no partido e os correligionários que já nos representam na Câmara”, declarou Coronel Tadeu.
Sob alvo de correligionários, Joice não deixou barato. Em sua defesa, disse num grupo de WhatsApp que antes mesmo de Eduardo ser deputado já tinha as “portas abertas” com “todos os líderes e presidentes de partidos”. “Lembre-se que, quando você se elegeu a primeira vez, eu já trabalhava na política há mais de uma década. E te conheci entrevistando seu pai. Não vou jogar o trânsito político que tenho no Congresso porque alguém bate o pé”, alertou.
A busca da deputada por protagonismo, no entanto, não resolve, avaliou Tadeu. O entendimento é de que a falta de uma unidade de diálogo com o Congresso mais atrapalhou do que ajudou até o momento. “Joice estava falando individualmente, sem consultar o partido e os deputados em exercício. Meu trabalho vai ser caminhar em conjunto com a bancada nacional, de forma hierárquica, para ajudar a organizar os segmentos e espaços para atuação. Teremos 14 vice-líderes”, complementou Bozzella.
O auxílio de Bozzella será importante, até por ser alguém alinhado a Bivar. O cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas (FGV), avaliou ser necessário alguém exercer ativamente um papel institucional. “Se continuar assim, eles vão perceber que acabam se prejudicando. E, nesse caso, vai ser o pior dos mundos para o partido: ficar cada um por si”, argumentou.

Blocão


A maior preocupação do PSL é com a formação de blocos. Cálculos feitos pela bancada paulista apontam que, se não coligar com nenhum partido, seria somente o 13º a escolher uma comissão. E o vazamento da discussão entre os integrantes do PSL incomodou algumas candidaturas ao comando da Câmara. Na conversa, Eduardo afirma que mantém diálogo com o líder do PR, deputado José Rocha (BA), e que evita “botar a cara publicamente” para impedir que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acelere “pautas-bomba”.
O presidente da Casa é candidato à reeleição e não comentou a polêmica, alegando ser um problema interno do PSL — que discutirá o assunto na quarta-feira. Mas o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), coordenador da campanha, fez alertas à interlocução política do PSL. Ressaltou que, se a legenda do governo eleito costurar apoio a outro bloco partidário que não o de Maia, ficará fora da composição da Mesa Diretora. “E estamos articulando o maior bloco partidário da história da Câmara”, advertiu. Maia mantém conversas com PSDB, PP, PSD, PRB, PR, MDB, PV e Solidariedade.
O apoio formal do PSL a uma candidatura que não vença as eleições seria desastroso para a governabilidade de Bolsonaro, que ficaria sem espaço em comissões importantes, como a de Constituição e Justiça (CCJ). O cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical, afirmou que seria uma governança derrocada, aos moldes da obtida pela então presidente Dilma Rousseff em 2015, quando o PT perdeu a disputa para Eduardo Cunha. “Por dois anos, precisaria abrir mão de pautar e desidratar projetos de interesse do governo para dialogar com os relatores e presidentes das comissões”, ponderou.