O globo, n. 31207, 15/01/2019. Economia, p. 15

 

Idade mínima

Marcello Corrêa

15/01/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Governo estuda transição em 15 anos

A equipe econômica estuda propor, na reforma da Previdência, que a transição para a idade mínima de aposentadoria ocorra em 15 anos. A ideia seria uma solução intermediária entre as que estão à disposição do governo. Seria mais curta e mais dura que a do texto enviado durante o governo Michel Temer ao Congresso, que previa transição em 20 anos, e mais suave que a proposta de fazer a mudança em apenas dez anos, que também é avaliada. A medida geraria economia extra de R$ 120 bilhões em relação ao projeto que está na Câmara — ao todo, a reforma de Temer prevê um alívio de cerca de R$ 500 bilhões em dez anos.

Outra possibilidade em análise, de acordo com um interlocutor da equipe econômica, é que, ao fim dessa transição de 15 anos, a idade mínima seja menor do que a prevista na proposta que está no Congresso, de 65 anos para homens e 62 para mulheres. Poderia ser de 62 anos para homens e 57 anos para mulheres, por exemplo, conforme citado pelo presidente Jair Bolsonaro em entrevista ao SBT no início do mês.

— Criar a idade mínima é muito mais importante do que o nível da idade definida —disse esta fonte.

A discussão sobre o tempo de transição foi um dos temas de uma reunião realizada no Rio, na última sextafeira, entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, o secretário da Previdência, Rogério Marinho, e assessores econômicos. O tempo de transição é o que define quando a idade mínima estipulada será de fato aplicada. Por exemplo, na transição em 20 anos de Temer, só seria necessário ter 65 anos (homens) e 62 anos (mulheres) exigidos pela proposta em 2038.

Antes disso, seria possível se aposentar mais cedo, em uma idade calculada a partir de uma tabela de transição. Quanto menor o tempo de transição, mais dura é a reforma.

Exigência muito alta

A avaliação de especialistas que participaram da reunião de sexta é que um tempo de transição muito curto pode ser de difícil implantação, porque exigiria que o começo da transição já partisse de uma idade muito alta, prejudicando quem está próximo de se aposentar por tempo de contribuição.

A economia extra de R$ 120 bilhões é menos da metade da que está prevista com uma transição mais rápida, de dez anos, estimada em R$ 275 bilhões.

O tempo de transição mais curto faz parte da proposta apresentada pelos economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Paulo Tafner, especialista em Previdência. No projeto, apresentado à equipe de Guedes logo após as eleições, a idade mínima começaria em 55 anos para homens e 53 anos para mulheres, chegando a 65 anos para ambos em 12 anos.

A reunião também tratou da migração para o regime de capitalização, que deve fazer parte da proposta de reforma do novo governo. Nesse sistema, que será voltado só para as futuras gerações, parte das contribuições à Previdência irá para uma conta individual do trabalhador, que ajudará a bancar seus benefícios no futuro. Hoje, ele só contribui para o regime de repartição, que é um bolo que financia as aposentadorias de todos.

FGTS na capitalização

A ideia para a capitalização em análise é permitir que parte do dinheiro do FGTS possa ser transferido para essa conta individual, para engordar a poupança da aposentadoria. A avaliação, no entanto, é que a medida pode enfrentar resistência, já que os recursos do Fundo são usados para financiar várias atividades, como o crédito imobiliário.

A expectativa é que a proposta de reforma da Previdência seja apresentada ao presidente Jair Bolsonaro ainda nesta semana. A ideia da equipe econômica é que o governo já consiga apresentar as linhas gerais do projeto durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que ocorre semana que vem.

A leitura de integrantes da equipe econômica é que o público do fórum — na maioria investidores — deve cobrar propostas concretas. O destino da reforma da Previdência é relevante para agentes do mercado financeiro, porque está diretamente relacionado à saúde das contas públicas do país.

Com um sistema desequilibrado, aumenta o risco de o governo ter dificuldades para honrar o pagamento de títulos da dívida. Só neste ano, o déficit da Previdência deve chegar a R$ 218 bilhões, equivalente a 2,9% do PIB. Se nada mudar, esse percentual deve saltar para 11,4% do PIB em 2060, segundo projeções da equipe econômica.

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Privatizações podem custear mudança para capitalização

15/01/2019

 

 

Fundo, que contaria com ativos da União, financiaria troca de regime. Venda de estatais também deve ser usada para reduzir dívida

Uma das opções em estudo no governo para custeara transição na Previdência de um regime de repartição —no qual trabalhadores da ativa arcam com o benefício de quem já se aposentou —para um regime de capitalização (no qual cada um contribui para sua própria aposentadoria) é criar um fundo com recursos decorrentes da privatização de empresas estatais e com ativos da União. Na semana passada, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, chegou a dizer que a mudança dos regimes precisaria ter um fundo de recursos para bancar a transição:

—Para que ela (capitalização) seja colocada em pé, é necessário que haja um fundo de transição. Isso está sendo trabalhado também.

O desafio do governo, no entanto, é colocar em prática um programa de privatizações que arrecade recursos suficientes para essa função, uma vez que o ministro da Economia, Paulo Guedes, também quer os recursos decorrentes da venda de estatais sejam usados para reduzir o estoque da dívida pública.

O ministro-chefe da Secretaria da Presidência, Gustavo Bebianno, disse ontem que a medida provisória (MP) que prevê a revisão de benefícios da Previdência talvez seja publicada hoje.

— Talvez amanhã (hoje) — disse Bebianno, questionado sobre quando a MP seria editada.

A declaração de Bebianno foi dada após uma reunião no Ministério da Justiça, da qual participaram Sérgio Moro, o titular da pasta, Paulo Guedes, da Economia, e Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia. A pauta foi a criação de um documento único de identificação, um projeto antigo que ainda não saiu do papel.

Bebianno afirmou que a ideia é aumentar a interlocução com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que administra o banco de dados que chegou a ser usado em um projeto-piloto.

—O Executivo vem há dez anos ou mais tentando trabalhar nesse projeto sem êxito, por conta talvez de falta de entrosamento. Estamos buscando esse entrosamento agora —afirmou.

Pontes disse que o projeto pode ficar pronto ainda este ano, mas não precisou um prazo para tirar a ideia do papel.

— Acredito que, agora, com esse grupo formado, com muito mais direcionamento, isso aí vai acelerar bastante. Aparentemente, porque ainda não é uma data precisa, este ano devemos ter resultados positivos — afirmou o ministro.