Título: Comércio contra a recessão
Autor: Marcondes , Gustavo
Fonte: Correio Braziliense, 26/07/2012, Economia, p. 12
Londres — Os Jogos Olímpicos — tanto os de Londres, que começam oficialmente amanhã, quanto os do Rio de Janeiro, em 2016 — não foram o único tema do encontro bilateral entre a presidente da República, Dilma Rousseff, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, ontem, na residência oficial do governo britânico. O anúncio de que a economia britânica encolheu 0,7% no segundo trimestre, a queda mais acentuada desde o começo de 2009 — aprofundando a recessão que já dura nove meses no país europeu — dominou o noticiário durante o dia e entrou na pauta de discussão dos dois líderes. Apesar de não terem feito nenhuma declaração oficial sobre o assunto, eles discutiram formas de ampliar a parceria comercial entre Brasil e Inglaterra.
Embora nenhum ato oficial tenha sido anunciado, a imprensa inglesa prevê que, diante da queda, que ficou acima do esperado pelos analistas, o Banco da Inglaterra será pressionado a adotar novos estímulos para animar a economia. Depois da divulgação dos dados, a libra esterlina atingiu o menor nível em quase duas semanas em relação ao dólar e os juros pagos pelos títulos do governo subiram.
Dívida No encontro, os dirigentes não só abordaram a situação econômica na Zona do Euro e na Grã Bretanha (que não integra a união monetária, mas é fortemente afetada pelo que acontece no bloco), como concordaram que é preciso "se ocupar da dívida soberana para fortalecer as perspectivas econômicas mundiais", segundo uma fonte de Downing Street declarou à France Presse. Cameron defendeu uma "maior liberalização do comércio entre Brasil e a União Europeia" e "a necessidade de maximizar os vínculos comerciais bilaterais".
Em 2011, volume de comércio bilateral atingiu US$ 8,57 bilhões (R$ 17,4 bilhões), o que representou aumento de 10,2% em relação ao ano anterior. No mesmo período, as exportações brasileiras para o Reino Unido cresceram 12,4%, superando os US$ 5,2 bilhões (R$ 10,5 bilhões). O país é o quarto investidor externo no Brasil.
Hoje, os dois lados fecham uma parceria na área de ciência e educação, pela qual, até 2015, o Reino Unido receberá 10 mil estudantes brasileiros. O projeto prevê a concessão de 6 mil bolsas para graduação sanduíche (metade no Brasil e metade no exterior), 3 mil para doutorado no mesmo modelo e mil para doutorado integral na Inglaterra. Também será assinada uma carta de intenções para o desenvolvimento do Museu Brasileiro de Ciência.
» Nota maior
A agência Moody"s pode aumentar a nota da economia brasileira este ano, mesmo se o governo não cumprir a meta de superavit fiscal (economia para pagar os encargos da dívida pública), de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O analista sênior da Moody"s, Mauro Leos, explicou que a queda dos juros reduz os custos da dívida, que, assim, pode cair em proporção ao PIB, ainda que o superavit fique em 2,1%. O Brasil tem nota Baa2, com perspectiva de alta.