O globo, n. 31195, 03/01/2019. País, p. 4

 

Aposta em Maia

Bruno Góes

03/01/2019

 

 

PSL de Bolsonaro fecha apoio à reeleição de presidente da Câmara

Partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL decidiu ontem declarar apoio ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que deve tentar a reeleição ao comando da Casa nos próximos dois anos. Com 52 integrantes, o PSL tem a segunda maior bancada da Câmara, atrás apenas do PT, que elegeu 56 deputados. O novo governo aposta no comando de Maia para a aprovação da reforma da Previdência, o tema econômico mais importante de 2019.

A adesão dá a Maia o apoio de onze partidos — PSL, PSD, PR, PSB, PSDB, DEM, PDT, SD, PRB, Pode e PCdoB — que, juntos, poderão garantir 300 votos na eleição. A votação está marcada para o dia 1º de fevereiro, quando todos os deputados eleitos tomarão posse.

Como reflexo imediato do acordo, o PT passou a reavaliar o eventual suporte ao atual presidente, que estava praticamente fechado. Por outro lado, o PRB retirou a candidatura de João Campos (GO), aliado de Bolsonaro.

— Considerando que a candidatura do João estava condicionada a um bloco importante, retiramos. Eu estive com ele. Considerando que não trouxemos o PSL, não há condições para levar a candidatura adiante. Ele ficou surpreendido com a decisão do PSL, mas compreendeu que é preciso retirar — disse Marcos Pereira, presidente do PRB.

O presidente do PSL, Luciano Bivar, afirmou que, em troca do apoio à reeleição, Rodrigo Maia se comprometeu a entregar para aliados de Bolsonaro o comando das duas principais comissões da Casa: a de Constituição e Justiça e a Comissão de Finanças e Tributação. Além disso, segundo Bivar, o partido poderia ficar com a segunda vicepresidência da Câmara.

Maia também deve obter votos do PP e do MDB. Como a votação é secreta, nem mesmo o apoio da cúpula dos partidos pode impedir que deputados descumpram a determinação e votem em adversários do candidato à reeleição.

O apoio do PSL foi sacramentado em um café da manhã na residência oficial da Câmara. Além de Bivar, o vice-presidente da sigla, Antônio de Rueda, e o líder do partido na Casa, Delegado Waldir (GO), participaram da conversa.

—O assunto foi tratado hoje pela manhã e o presidente Rodrigo Maia se comprometeu a tratar de todas as agendas da campanha. Estamos em perfeita sintonia —disse Bivar.

O acordo firmado com o PSL ignora o discurso dos filhos do presidente, o senador eleito Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), que vinham publicamente atacando o projeto de reeleição de Maia. Eles não participaram do encontro.

No começo de dezembro, Flávio chegou a dizer que “Maia já teve seu tempo à frente da Câmara”. Desde o início da transição, Eduardo trabalhava contra a candidatura de Maia, por avaliar que a esquerda seria favorecida em pautas relacionadas aos costumes.

Maia possui boa interlocução com o superministro da Economia, Paulo Guedes. Eles conversam com frequência. Guedes, inclusive, tem recebido parlamentares indicados pelo presidente da Câmara.

Nas redes sociais, Joice Hasselmann (PSL-SP), eleita deputada federal, foi bombardeada por comentários negativos ao anunciar que o PSL apoiaria Maia. No Twitter, ela respondeu aos seus seguidores:

“Qual seria a opção? Afundar o governo? Não ter bloco pra aprovar nada? Fazer beicinho de criança birrenta e prejudicar milhões de brasileiros por isso? Brincar de polianas? Ora, me poupe! Vamos pensar minha gente”, escreveu Joice.

Contra Rodrigo Maia, há ainda quatro candidatos declarados. Fábio Ramalho (MDB-MG), JHC (PSB-AL), Alceu Moreira (MDB-RS) e Capitão Augusto (PR-SP).

Augusto , que pode ser o líder da bancada da bala na próxima legislatura, minimizou o apoio. Segundo ele, o acordo é puramente formal, apenas para garantir cargos no caso de vitória de Maia. Ele avalia que, hoje, possui o apoio de um terço da própria bancada do PSL.

— Mantenho minha candidatura. O PSL não teria vontade de continuar com o Rodrigo Maia. Ele não é alinhado aos interesses do Bolsonaro. Essa posição é puramente para compor a Mesa. Não é por vontade política.

Contra Renan no Senado

O PT pode rever o apoio a Maia, mas o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) não descarta uma possível aliança. Reconhece, porém, que o partido conversa ainda com JHC (PSB-AL) e Fábio Ramalho (MDB-MG).

— É preciso ver o que acontecerá. Quem está dizendo que o PSL ficará com aCCJeaF in ançaseT ribu taçãoéoBiv ar, e não o Maia— disse Zarattini.

Procurado, Maia não respondeu ao GLOBO se havia negociado o comando das comissões com Bivar. Mas também não veio a público par anegara informação.

Luciano Bivar também decidiu lançar o nome de Major Olímpio (PSL-SP) para a presidência do Senado. O principal adversário e um dos favoritos para o cargoéosen ador Renan Calheiros( MD B-AL ), reeleito este ano. Olímpio gravou um vídeo para comentara indicação.

— Foi totalmente inesperado para mim, o joelho tremeu. E o Bivar me deu tempo para amadurecer essa possibilidade. Se resolver ir para uma empreitada deste tamanho, te nhoque realmente estarem condições de agregar uma vitória —afirmou Olímpio.

“O presidente Rodrigo Maia se comprometeu a tratar de todas as agendas da campanha. Estamos em perfeita sintonia”

Luciano Bivar, presidente do PSL

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Núcleo bolsonarista evita conflito desnecessário no Congresso

Paulo Celso Pereira

03/01/2019

 

 

Decisão do PSL, partido do presidente, de apoiar Maia mostra que o pragmatismo começa a se aproximar do núcleo bolsonarista

As pedaladas fiscais e os decretos orçamentários irregulares foram a razão formal do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. No entanto, o processo que a tirou do Palácio do Planalto dificilmente teria prosperado não fosse a animosidade do então comandante da Câmara, Eduardo Cunha, e a absoluta incapacidade do Executivo em conduzir sua agenda no Parlamento. Ambas foram cultivadas na desastrada atuação do governo na disputa pela presidência da Casa, ao lançar o correligionário Arlindo Chinaglia contra o já favorito emedebista.

A queda da presidente é o maior ensinamento recente sobre os riscos de o Planalto perder disputas pelos postos de comando do Congresso. Muitas diferenças separam Jair Bolsonaro de Dilma e outras tantas afastam Rodrigo Maia de Eduardo Cunha. No entanto, a decisão do PSL, partido do presidente, de apoiar Maia mostra que o pragmatismo começa a se aproximar do núcleo bolsonarista. Após duas vitórias seguidas na disputa pela presidência da Câmara, o deputado fluminense é o favorito na disputa do próximo mês e já conta com amplos apoios, inclusive entre os partidos de esquerda.

Desde que Bolsonaro venceu a eleição, Maia tem uma resposta padrão quando indagado sobre como pretende tratar a pauta do governo caso consiga manter-se à frente da Casa: o compromisso com a agenda econômica de Paulo Guedes será integral. A resposta é um copo meio cheio, meio vazio. Por um lado, demostra alinhamento com as propostas liberalizantes — o que não surpreende para alguém que, egresso do mercado financeiro, há muito é visto como o principal interlocutor dos bancos no Parlamento. Por outro, sinaliza que nada fará para incentivar as conservadoras propostas de costumes do Planalto — e é isso o que Maia tem de melhor a oferecer à oposição.

O flerte do governo com os desafios efetivos das negociações políticas foi ampliado pelo aceno feito pelo novo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que terá a função precípua de fazer a articulação com o Congresso. Um dia depois de Bolsonaro usar seus discursos para raivosos ataques aos adversários, o ministro reconheceu caber ao governo o “primeiro gesto” de diálogo com a oposição para propor um “pacto pelo país”.

Bolsonaro tenta inaugurar uma nova forma de negociação política, sem troca de ministérios por apoio parlamentar. É aguardar para ver se dará certo. Mas evitar conflitos já é um bom início.