Título: Aproximação do PRB ao PSDB irrita Planalto
Autor: Valadares , João
Fonte: Correio Braziliense, 27/07/2012, Política, p. 4

O encontro entre o candidato a prefeito de São Paulo José Serra (PSDB) e o coordenador da campanha do ex-deputado Celso Russomanno (PRB), Marcos Pereira, presidente nacional do partido, para costurar um pacto de não agressão durante a campanha eleitoral, deixou o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), numa situação bastante desconfortável. Crivella virou ministro justamente com o objetivo de atrair para o candidato petista, Fernando Haddad, fatia do eleitorado evangélico dominada hoje por Russomanno.

A reunião ocorreu na casa do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD). Interlocutores do PRB afirmaram reservadamente ao Correio que a manobra de Russomanno foi arriscada e pode resultar em prejuízos políticos para Crivella no futuro. "É claro que causa um certo constrangimento, mesmo que não tenha tido nenhum tipo de acordo prático na reunião. Temos um ministro no governo federal e qualquer movimento precisa ser feito com bastante cuidado. Ainda mais em razão do desempenho pífio de Haddad", afirmou um parlamentar. No Palácio do Planalto, a movimentação do PRB em direção à candidatura de José Serra num eventual segundo turno contra o petista não foi vista com bons olhos pela presidente Dilma Rousseff.

O episódio foi tão embaraçoso que, ontem, durante encontro com a presidente, em Londres, Marcos Pereira precisou contornar a situação e se explicar. Disse a Dilma que o governo federal não tinha motivo nenhum para se preocupar com o PRB, porque a sigla sempre foi fiel. Crivella foi procurado pela reportagem, mas a assessoria do ministro comunicou que ele não poderia se pronunciar sobre o assunto porque estava em viagem ao exterior.

Celso Russomanno afirmou ao Correio, na tarde de ontem, que o encontro não afeta em absolutamente nada a relação de Crivella com o governo federal. "O presidente do nosso partido, por exemplo, teve um encontro hoje (ontem) com Dilma. Isso mostra que temos uma boa relação com todos os partidos."

Russomanno negou qualquer tipo de acordo com José Serra. "Eu não faço ataques pessoais. Critico sempre a gestão pública. Nunca ataco as pessoas. Estou bem posicionado nas pesquisas justamente por isso. Nosso lema é trabalho, trabalho e trabalho, apenas isso."

Ataques Questionado sobre as críticas que teria feito a Haddad logo após o encontro na casa de Kassab, Russomanno informou que não havia nenhuma relação com o que foi discutido na reunião. De acordo com o candidato do PRB, ele repetiu apenas posicionamentos conhecidos sobre a gestão do petista à frente do Ministério da Educação em relação à polêmica distribuição do kit anti-homofobia no ano passado e aos recorrentes problemas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "Somos adversários apenas. Não somos inimigos."

O presidente do PRB em São Paulo, Aildo Rodrigues, também procurou minimizar o possível acordo com o PSDB. "O encontro ocorreu, mas isso que estão falando não faz o menor sentido. O nosso candidato não tem perfil de atacar ninguém. O presidente Marcos Pereira apenas aceitou um convite feito por Kassab." Ele ressaltou que não existe nenhum tipo de pacto. "Nós continuamos adversários políticos."

"O presidente do nosso partido teve um encontro hoje (ontem) com Dilma. Isso mostra que temos uma boa relação" Celso Russomanno, candidato do PRB

Haddad quer corredor de ônibus O candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, comentou ontem sua principal proposta para desafogar o intenso trânsito da cidade: reimplantar os corredores exclusivos para ônibus. "É um modelo brasileiro, nós deveríamos nos orgulhar. É um modelo de Curitiba que foi exportado para o mundo. Jogar fora esse legado, que era de um prefeito que nem era do meu partido, é um equívoco", disse, referindo-se à iniciativa adotada na capital paranaense na década de 1970 pelo ex-prefeito curitibano Jaime Lerner. O modelo inspirou o sistema São Paulo Interligado, na gestão da ex-prefeita e hoje senadora Marta Suplicy, entre 2001 e 2004. O programa, entretanto, foi interrompido pelo sucessor, José Serra (PSDB), que este ano concorre novamente ao Executivo municipal.