O globo, n. 31194, 02/01/2019. País, p. 4

 

Bolsonaro assume compromisso de 'reerguer a pátria'

02/01/2019

 

 

Em uma cerimônia marcada por discursos sucintos, um forte aparato de segurança e público estimado em 115 mil pessoas, Jair Messias Bolsonaro tornou-se ontem o 38º presidente da República do Brasil. Em seus dois pronunciamentos, primeiro em tom mais ameno no Congresso e depois, mais inflamado, no parlatório do Palácio do Planalto, Bolsonaro retomou o estilo combativo da campanha, com ataques ao “socialismo” e ao “politicamente correto”. Também pediu aos parlamentares apoio para “reerguer a pátria” e assumiu o compromisso de construir uma sociedade sem “discriminação ou divisão”.

A cerimônia começou com um desfile em carro aberto pela Esplanada, ao lado da mulher Michelle, e do filho Carlos, que é vereador no Rio.

Trinta anos após a redemocratização, marcada pela aprovação da Constituição de 1988, Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão, desceram primeiramente no Congresso Nacional, onde juraram cumprir a Carta e tomaram posse.

Dos ex-presidentes, apenas José Sarney e Fernando Collor de Mello compareceram. No discurso, Bolsonaro fez acenos aos parlamentares, com quem chegou a dizer que estava “casando”, mas voltou a afirmar que não trocaria apoio por cargos.

Se foi direto ao apontar aos parlamentares o que considera os problemas centrais do país — a corrupção, a criminalidade, a irresponsabilidade econômica e a “submissão ideológica” —, o presidente recém-empossado não detalhou as políticas que pretende implementar no governo. No Congresso, embora tenha feito referência à necessidade de “reformas estruturantes”, não citou diretamente aquela considerada prioritária pela equipe econômica: a da Previdência.

As sinalizações mais objetivas na economia foram em defesa de uma gestão austera, em que o governo “não gaste mais do que arrecada”, que busque a eficiência da máquina pública, reduzindo a burocracia, e proteja a propriedade privada. Em ambos os discursos, os mais breves da Nova República com cerca de dez minutos cada, Bolsonaro retomou um dos principais temas de sua campanha — a segurança pública — sinalizando que deve facilitar a posse de armas de fogo e tentar mudar a legislação para dar imunidade a policiais que matem em serviço.

Tanto no Congresso quanto no Planalto, Bolsonaro fez referências a bordões de sua campanha com amplo apelo entre o público religioso, como a “defesa da família”, da “tradição judaico-cristã” e o combate ao que chama de “ideologia de gênero”.

A mudança no viés ideológico do Palácio do Planalto se refletiu na lista dos dez chefes de Estado ou governo presentes na cerimônia de posse. Entre eles, estavam o polêmico primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, conhecido por suas posição ultranacionalistas, centralizadoras e anti-imigração, o conservador primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente do Chile, Sebastián Piñera.

Apenas os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Uruguai, Tabaré Vázquez, representavam governos de esquerda. Os Estados Unidos enviaram o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o presidente Donald Trump manifestou apoio a Bolsonaro no Twitter logo após o discurso de posse no Congresso.

O mais amplo aparato de segurança já montado para uma posse afetou boa parte do público e restringiu o trabalho dos jornalistas. Mas não impediu que a Praça dos Três Poderes ficasse repleta no momento em que Michel Temer lhe transmitiu a faixa presidencial no parlatório.

Foi lá que a primeira-dama Michelle teve papel inédito em posses presidenciais. Com um elegante vestido em tom rosé, a mulher do presidente discursou antes de Bolsonaro, usando a Língua Brasileira de Sinais (Libras) em homenagem à população surda, público para o qual faz trabalho voluntário. Dos cinco filhos do novo presidente, apenas o segundo, Carlos, considerado o “pitbull” da família, teve papel de destaque, acompanhando o pai no Rolls-Royce presidência lem todas as etapas do desfile.