O globo, n. 31193, 01/01/2019. País, p. 5

 

Datafolha: 61% são contrários à posse de armas

01/01/2019

 

 

Homens ricos e heterossexuais são os mais favoráveis à ideia de que ter uma arma é direito do cidadão para se proteger; Número de brasileiros que defendem a proibição da posse aumentou entre outubro e dezembro

Seis em cada dez brasileiros consideram que a posse de armas de fogo deve ser proibida por representar ameaça à vida de outras pessoas, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem pelo jornal “Folha de S.Paulo”. O levantamento aponta um aumento da rejeição às armas. Em levantamento anterior, realizado em outubro, 55% eram contrários à posse, contra 61% registrados agora.

Por outro lado, a fatia de pessoas favoráveis à ideia de que a posse de armas é “um direito do cidadão para se defender” passou de 41% para 37%, entre outubro e dezembro, oscilando no limite da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para baixo ou para cima.

Segundo a pesquisa Datafolha, homens ricos e heterossexuais lideram a defesa da posse de armas. Entre as mulheres, 71% acham que ela deve ser proibida, ante 51% dos homens com mesma opinião. Entre os gays, 77% são contra a posse de armas; entre os heterossexuais, o índice cai para 59%.

No grupo com renda superior a dez salários mínimos, 54% consideram a posse de armas um direito; este percentual cai para 32% entre os que têm renda de até dois salários mínimos.

A região Nordeste concentra o menor número de pessoas favoráveis à posse de armas, 32%. O maior percentual foi registrado no Sul, com 47%. No Sudeste o índice foi de 35%.

Entre os que declararam ter votado em Jair Bolsonaro na última eleição, a defesa da posse de armas chega a 53%. No entanto, quando esses mesmos eleitores são indagados sobre a necessidade de facilitar o acesso a armas, 59% dizem ser contrários.

O Datafolha ouviu 2.077 pessoas em 130 municípios de todas as regiões do país.

Posse será facilitada

No último sábado, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), registrou em suas redes sociais que pretende editar um decreto para facilitar a posse de armas.

O Estatuto do Desarmamento prevê requisitos para que o civil adquira arma de fogo — como não ter antecedentes criminais, não responder a inquérito policial ou processo criminal, comprovar capacidade técnica e aptidão psicológica. Determina também que é preciso “declarar a efetiva necessidade”.

Hoje, a Polícia Federal faz uma análise para verificar se o interessado tem de fato necessidade de ter uma arma. A ideia é retirar esse poder de análise da PF, deixando claro que basta o interessado atender aos critérios objetivos de documentação para ter direito à posse de arma.

Nos comentários no Twitter, Bolsonaro falou também sobre a concessão do registro definitivo. Hoje, o registro tem que se renovado a cada cinco anos. Segundo autoridades responsáveis pela elaboração do texto, ainda não está definido se o governo vai simplesmente acabar com a exigência de renovação ou se o prazo de revalidação será ampliado.

A posse é diferente do porte de armas. De acordo com a lei, a posse é a autorização de manter a arma apenas no interior da casa ou no local de trabalho do proprietário, desde que seja o responsável legal pelo estabelecimento.

O porte, por sua vez, costuma ser restrito a quem utiliza a arma profissionalmente, como policiais e seguranças.