Correio braziliense, n. 20321, 09/01/2019. Economia, p. 9

 

Levy defende privatizações

09/01/2019

 

 

Novo presidente do BNDES afirma que venda de estatais federalizadas é uma saída para os desafios fiscais dos estados. Na cerimônia de posse, reforça foco da instituição de fomento na demanda de empresas de médio porte

O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, confirmou ontem o encolhimento da instituição de fomento, mas evitou falar em números. Em cerimônia de transmissão de cargo na sede do BNDES, no Rio, Levy defendeu privatizações, sugeriu um “melhor uso” dos recursos do banco e ressaltou que os desembolsos não são a única forma de apoio a empresas.

Em coletiva, após a transmissão, Levy foi reticente em relação à privatização da Eletrobras, mas se mostrou otimista sobre a venda das estatais federalizadas do setor elétrico. “A privatização da Eletrobras continua em discussão e vamos apoiar a política que se fixar”, disse.

Por outro lado, de acordo com o novo presidente do banco, a venda das empresas federalizadas é assunto resolvido. “O departamento de desestatização do banco não aparecia, mas continua ativo. Privatização das empresas estaduais de energia elétrica se arrastava há 20 anos e hoje é um tema resolvido”, disse.

Levy defendeu o modelo de desestatização como saída “diante dos desafios fiscais”. “Cada estado tem que avaliar sua situação e ver as implicações jurídicas de suas decisões”, afirmou. “Nosso papel é de apoiar as decisões tomadas. Somos prestadores de serviço, temos que apoiar o cliente”, completou.

Estratégia

Com a perspectiva de devolver antecipadamente até R$ 100 bilhões da dívida com a União este ano, o BNDES é um dos principais alvos na estratégia do ministro da Economia, Paulo Guedes, de encolher os bancos públicos. Só que o valor da devolução deste ano ainda não está decidido, disse Levy. “O exato valor da devolução vai ser função tanto de perspectivas de retomada da economia quanto do melhor uso do nosso balanço”, afirmou. Segundo ele, antes de definir metas, tanto de desembolsos quanto de devoluções antecipadas, é preciso fazer estudos.

Conforme a reestruturação da dívida firmada em julho do ano passado, o BNDES devolveria R$ 102,8 bilhões ao longo dos quatro anos do governo Bolsonaro — R$ 26,6 bilhões estão previstos para 2019. Só que a equipe econômica já indicou que quer mais este ano. A devolução poderá chegar a R$ 100 bilhões.

Do lado da retomada da economia, Levy demonstrou otimismo com uma recuperação cíclica. Também sinalizou foco na demanda das empresas de médio porte quando os investimentos voltarem de forma mais forte — o interesse nas empresas menores tem sido repetido como mantra desde que o governo Michel Temer começou uma guinada no BNDES, em 2016. Com a devolução de R$ 309 bilhões ao Tesouro Nacional, o BNDES liberou para financiamentos no ano passado R$ 69,16 bilhões, o menor nível desde 1996.

Questionado se esse nível de desembolsos seria pouco caso a recuperação da economia ganhasse fôlego, Levy disse que é preciso separar a capacidade de desembolsos do BNDES do apoio que a instituição de fomento pode dar aos investimentos. “Se usarmos outros instrumentos, como garantias, podemos ter desembolsos com recursos privados, mas onde o BNDES proporcione parte da estrutura financeira”, afirmou.