Título: Raúl chama EUA para o diálogo
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Fonte: Correio Braziliense, 27/07/2012, Mundo, p. 17
Sem abandonar o tom de desafio, o presidente de Cuba, Raúl Castro, reiterou ontem a disposição de dialogar com os Estados Unidos e se disse disposto a levar à mesa %u201Ctodas as questões%u201D pelas quais seu regime tem sido cobrado. Ao mesmo tempo, porém, acusou os norte-americanos de buscarem a derrubada de seu governo, a exemplo do que ocorre com os países da Primavera Árabe. As relações entre os dois países, na avaliação de um especialista, melhoraram desde que Raúl substituiu o irmão Fidel Castro Fidel, em 2006, e de que Barack Obama assumiu a Casa Branca, em 2009. Persiste, no entanto, um obstáculo de meio século à aproximação: o embargo econômico imposto pelos EUA à ilha.
%u201CNo dia em que quiserem (conversar), a mesa está posta%u201D, disse Raúl, que discursava no aniversário da frustrada invasão ao quartel de Moncada, em 1953 %u2014 ação liderada pelos irmãos Castro, considerada o marco inicial da Revolução Cubana, que triunfou em 1º de janeiro de 1959. %u201CSe querem discutir os problemas da democracia, como eles dizem, a liberdade de imprensa, os direitos humanos, todas essas histórias que inventaram nos últimos anos, sobretudo isso dos direitos humanos, vamos discutir a respeito de Cuba%u201D, afirmou. %u201CMas em igualdade de condições, porque não somos submissos nem colônia de ninguém. Vamos discutir os mesmos temas a respeito dos Estados Unidos e estaremos em paridade.%u201D
A abertura do presidente cubano para dialogar com os Estados Unidos não é nova, mas o discurso de ontem deu à proposta ares de iniciativa. Em 2009, com a posse de Obama, Raúl havia manifestado a intenção, mas agora, pela primeira vez, ele aceitou discutir questões sensíveis para o regime comunista. %u201CIsso não quer dizer que Raúl Castro aceitará aquilo que os EUA propõem%u201D, explicou Luiz Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Unesp (São Paulo) e autor de Estados Unidos e América Latina e A Revolução Cubana.
Embargo
Ayerbe pondera que, desde que Obama e Raúl chegaram ao poder, algumas mudanças foram implementadas nas relações bilaterais, mas não houve avanço na questão essencial, que é o embargo americanocano à ilha. Esse quadro deve perdurar por pelo menos mais este ano, em que Obama luta com dificuldades pela reeleição. O cientista político opina que eventuais alterações na política de Washington para Cuba viriam somente em um possível segundo mandato do democrata. A maior parte da comunidade cubana-americana vive na Flórida e é contrária ao regime castrista. O estado é, tradicionalmente, um dos decisivos para a definição da eleição presidencial.
A cerimônia na qual Raúl Castro discursou foi realizada na cidade de Guantánamo, perto da base naval mantida na ilha pelos EUA. A presença da base é outro tema de divergência, e ontem o tema foi invocado pelo vice-presidente José Ramón Machado Ventura, antes do discurso de Raúl. Segundo Machado, os EUA violam o direito internacional ao manter a estrutura em território cubano. A base de Guantánamo foi instalada em virtude de um acordo firmado em 1903, após a independência de Cuba em relação à Espanha.
Apesar de abrir a porta ao diálogo, o líder comunista não arrefeceu o discurso. Ele acusou os opositores do regime de, %u201Capoiados pelos EUA e por outros países ocidentais, criar condições e aspirar que um dia aconteça o mesmo que ocorreu na Líbia e o que querem que aconteça na Síria%u201D. Raúl se referia à queda do ditador líbio, Muammar Kadafi, no ano passado, e à crise na Síria, onde forças leais a Bashar Al-Assad enfrentam uma rebelião apoiada pelo Ocidente.
Trechos » No dia em que quiserem, a mesa está posta. Já dissemos pelos canais diplomáticos: se quiserem discutir, discutiremos.
» Se querem discutir os problemas da democracia, como eles dizem, a liberdade de imprensa, os direitos humanos, todas essas histórias que inventaram nos últimos anos, sobretudo isso dos direitos humanos, vamos discutir a respeito de Cuba. Mas em igualdade de condições, porque não somos submissos nem somos colônia de ninguém. Vamos discutir os mesmos temas a respeito dos Estados Unidos e estaremos em paridade.
» Se os EUA querem confrontação com Cuba, que seja no beisebol ou em qualquer tipo de esporte. De preferência no beisebol, porque às vezes eles ganham, às vezes ganhamos nós.