O globo, n. 31249, 26/02/2019. País, p. 5
PF não protegerá ninguém, diz Moro sobre laranjas
26/02/2019
Ministro afirma que acordo com Bolsonaro é para não poupar nenhum integrante do governo, caso apareçam denúncias. Crise surgiu com revelação de suposto esquema de candidaturas do PSL para desviar verba pública eleitoral
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse ontem que orientou a Polícia Federal (PF) a “não proteger ninguém” na investigação sobre o uso de candidatas laranjas pelo PSL, partido de Jair Bolsonaro. Em entrevista à rádio “Jovem Pan”, Moro afirmou que, antes de assumir o cargo, combinou com o presidente que “ninguém seria poupado” se aparecessem denúncias no governo.
— Quando fui convidado (por Bolsonaro para ser ministro), o que conversamos? Ninguém seria poupado. Essa é minha posição e do senhor presidente, que ninguém seria poupado se surgissem casos de crimes no âmbito do governo. Isso seria apurado, e nós não iríamos proteger ninguém. E essa é a orientação que tem sido passada para a PF e demais órgãos de investigação — disse.
A crise no governo Bolsonaro começou depois da publicação de reportagens do jornal “Folha de S.Paulo” sobre repasses de verba do fundo partidário a candidatos do PSL supostamente laranjas em Minas Gerais e em Pernambuco. As denúncias envolvem o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o presidente do partido, Luciano Bivar.
Questionado se há algum desconforto em fazer parte de um governo cuja sigla pode ter utilizado candidaturas para desviar recursos do fundo eleitoral, Moro respondeu que todas as denúncias “têm que ser devidamente apuradas”.
— Órgãos de investigação têm independência. O próprio presidente solicitou que esses episódios fossem devidamente apurados. O trabalho que tem que ser feito em relação a esse fato está sendo feito—afirmou Moro.
Sobre as chances de aprovação do pacote anticrime
pelo Congresso, o ministro respondeu que não há possibilidade de que o projeto fique num escaninho esperando que a reforma da Previdência seja aprovada.
—A Previdência é prioridade. Entretanto, isso não significa que o Congresso ficará trabalhando apenas em cima da reforma por um semestre. As duas coisas podem ser feitas ao mesmo tempo.
Caixa dois
Segundo Moro, separar a criminalização do caixa dois da proposta anticrime foi tomada por uma “questão estratégica”, como ele definiu reclamações de políticos de que a falta de declaração de dinheiro em campanha não deveria entrar no mesmo projeto que crimes como tráfico de drogas e corrupção. Ainda assim, afirma, o governo se esforçará para aprovar esse projeto.
Quanto ao questionamento de que a parte do pacote anticrime que flexibiliza as punições para policiais que cometem crimes em serviço pode ser entendida como uma “licença para matar”, o ministro respondeu que “o compromisso do governo é melhorar nossas instituições” e “passar por aprimoramento das legislações, para avançar”.
Segundo ele, ao propor extinção ou redução da pena para quem comete crimes em legítima defesa, motivado por “violenta emoção”, não estava pensando em policiais.
“Quando fui convidado (por Bolsonaro para ser ministro), o que conversamos? Ninguém seria poupado. Essa é minha posição e do senhor presidente”
Sergio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública