O globo, n. 31249, 26/02/2019. País, p. 8

 

PF entrega inquérito sobre Adélio a Bolsonaro

Jailton de Carvalho

André Souza

26/02/2019

 

 

Investigação ainda não encontrou indícios do envolvimento de outras pessoas no atentado à faca contra o então candidato a presidente, em Juiz de Fora. Vida do criminoso foi vasculhada desde a sua infância

O ministro da Justiça, Sergio Moro, apresentou ontem à noite ao presidente Jair Bolsonaro o resultado do segundo inquérito aberto pela Polícia Federal sobre o atentado cometido contra ele por Adélio Bispo de Oliveira. Até duas semanas atrás, quando a investigação se encaminhava para o fim, a Polícia Federal não havia encontrado indícios do envolvimento de terceiros no atentado contra o presidente. Adélio esfaqueou Bolsonaro durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), em 6 de setembro de 2018.

Segundo uma autoridade que conhece o caso de perto, a Polícia Federal vasculhou a vida de Adélio desde o seu nascimento. Foram analisadas viagens, movimentação financeira, relacionamentos pessoais, militância política e ativismo em redes sociais. Um delegado chegou a comentar que, hoje, a Polícia Federal sabe mais do Adélio do que ele próprio. Mesmo assim, a tendência do segundo inquérito era confirmar a hipótese levantada na primeira investigação: Adélio agiu como um lobo solitário, sem qualquer estímulo de terceiros.

No primeiro inquérito, encerrado em setembro, a Polícia Federal apontou apenas Adélio como autor do atentado contra Bolsonaro. Mas, diante da forte pressão do presidente, de familiares e de colegas de partido, a polícia entendeu que seria necessário esticar a apuração por mais alguns meses para não deixar qualquer margem a dúvidas.

Cinco meses depois do início dessa segunda investigação, ainda mais minuciosa que a primeira, a PF nada encontrou que vinculasse uma terceira pessoa ao atentado. Ou seja, Adélio teria agido sem comando, sem estímulo e sem a cumplicidade de terceiros.

Moro fez o relato ao presidente sobre o caso numa reunião que teve também a participação do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, e com delegados que atuaram diretamente no caso. Numa entrevista, na saída de um seminário no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Moro disse que o inquérito ainda não terminou. Explicou que faria o relato a Bolsonaro porque o presidente foi vítima do atentado.

— É uma investigação ainda em andamento. Presidente é a vítima. Então, é interessado na investigação. Vai ser apresentado a ele o resultado da investigação até o momento —disse Moro.

Fim próximo

O caso deve ser formalmente encerrado no próximo mês. Segundo uma autoridade, só falta a conclusão de alguns detalhes técnicos, que dificilmente terão impacto no desfecho do inquérito. Numa tentativa de esclarecer todas os pontos obscuros ou aparentemente duvidosos, a Polícia Federal chegou até mesmo investigar a contratação dos advogados responsáveis pela defesa de Adélio na fase inicial da investigação. Depois da reunião com Bolsonaro, Moro e Valeixo deixaram o Palácio do Planalto sem dar entrevistas.

O Ministério da Justiça não quis confirmar se o presidente foi mesmo informado de que a PF não localizou indícios de mandantes no atentado.