O globo, n. 31249, 26/02/2019. País, p. 8

 

‘Tucanaram o apadrinhamento’, diz líder do partido.

Natália Portinari

Amanda Almeida

26/02/2019

 

 

Senador Major Olímpio ironiza banco de talentos anunciado pelo governo para filtrar indicações políticas

O senador Major Olímpio (PSL-SP), líder do partido no Senado Federal, ironizou, em entrevista ao GLOBO, o “banco de talentos” anunciado pelo governo Bolsonaro para receber indicações políticas a cargos do segundo e terceiro escalão, um de diversos acenos feitos a parlamentares mirando a aprovação da reforma da Previdência:

—Cada um vai fazendo a mudança e dá o nome que quer, né. Eu achei até engraçado, banco de talentos. Falei nossa senhora, tucanaram o apadrinhamento (risos). Como é que é o nome, banco de talentos? Tá bom, vai. Eu só posso achar que continua sendo indicação política da mesma forma. Bota o nome engraçadinho que quiser.

O líder do PSL explicou, ainda, o que quer dizer com “tucanar”:

— Essa coisa do tucanar é dar um nome distinto. Falavam “não temos propina, temos participação política”. Banco de talentos? Agora ficou bom, né (risos). Até então ninguém que era indicado tinha talento, agora será com base em um banco de talentos... Me desculpa, mas eu tenho que sorrir oficialmente (risos). Na hora em que você souber como faz a inscrição nesse banco vou tentar arrumar algum amigo talentoso.

Por meio do sistema proposto pelo governo, parlamentares poderiam indicar cerca de mil nomes para cargos de segundo escalão nos estados. Líderes do Congresso se queixam de que Bolsonaro está tentando disfarçar indicações políticas e, portanto, as tratando como se fossem sempre problemáticas.

Para o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio (SP), o procedimento do banco de talentos é “estranho” e, se a intenção for apenas fazer uma triagem no histórico da pessoa, não seria necessário criar um novo sistema. A pessoa pode ter talento e não ter comportamento ético adequado, argumenta.

—Para dizer o mínimo, é um procedimento estranho, porque, em todas as vezes em que você busca conhecer o histórico de uma pessoa para nomeála, a sua história de vida ética e profissional é sempre muito bem-vinda para cargo de servidor ou comissionado. Mas criar um banco de talentos, primeiro, você vai ficar restrito àqueles talentos. E, segundo, você tem que levar em consideração que às vezes a pessoa tem uma grande talento, mas não tem a confiança do gestor — disse Sampaio.

Mais críticas

Na última sexta-feira, o Presidente do Senado, David Alcolumbre (DEMAP), também ironizou a criação desse mecanismo para indicações e disse que é o mesmo que indicação política.

— Os outros não tinham talento? As pessoas também tinham talento antes —disse a jornalistas.