O globo, n. 31249, 26/02/2019. Mundo, p. 23
Militares desertores querem lutar contra Maduro
Patrick Camporez
26/02/2019
Grupo de sete sargentos da Guarda Nacional Bolivariana que fugiram para Roraima se dispõe a ir para a Colômbia empunhar armas contra o regime chavista, que acusam de oprimir o país e destruir suas riquezas
Os sete militares venezuelanos que desertaram de seus postos e pediram refúgio no Brasil desde sábado declararam que pretendem seguir para Cúcuta e lá se juntar aos outros 167 membros das forças de segurança que abandonaram o país sul-americano através da fronteira com a Colômbia. Seu objetivo é lutar contra o governo de Nicolás Maduro e pela ascensão do opositor Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino há mais de um mês e foi reconhecido por 50 países.
Ontem, chegou a sete o número de sargentos da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) no Brasil, e eles relatam que há outros três membros do Exército venezuelano na mesma situação. O próprio Exército brasileiro diz, no entanto, que estes outros três militares não deram entrada no centro de acolhida montado em Pacaraima, no estado de Roraima.
— Seguiremos lutando em favor do nosso povo e vamos conseguir êxito, mostrar que a Guarda Nacional é o verdadeiro garantidor da segurança no nosso país —afirmou o sargento José Moreno Penharos a jornalistas em Pacaraima, depois de desertar na noite de domingo com outros dois colegas por meio de trilhas na montanha. —Somos animais de trabalho de Maduro. Não queremos ser opressores. Não somos nenhum tipo de assassinos. Não queremos ficar marcados na História como assassinos.
Os desertores dizem, ainda, que a situação de trabalho nas fileiras militares venezuelanas é precária.
— Faltam mantimentos e armas. Com o salário, dá apenas para comprar as passagens para o local de trabalho. Há necessidades em todos os sentidos. Não temos veículos. Eles querem que nós atiremos contra o povo —continuou Penharosa.
O sargento Luiz González também se manifestou em nome do grupo de desertores e disse que, devido à opressão em que vive o povo venezuelano, é preciso que chegue ao fim o atual governo.
— Maduro acabou com os direitos humanos, não respeita as leis, só fez aumentar a corrupção. Peço que nossos colegas armados abandonem suas armas e lutem pelo presidente encarregado Juan Guaidó, pois este governo quer acabar com nossa República, com a felicidade do povo. Quer destroçar nossas riquezas. Um regime opressor e assassino.
Generais continuam leais
No total, já são 174 os militares e agentes da Polícia Nacional venezuelana que desertaram desde sábado, somando os que fugiram por Roraima e pela fronteira com a Colômbia, que foram 167, segundo número do serviço de imigração colombiano. No entanto, ainda não há notícia de deserções de militares de alta patente.
A situação na fronteira em Pacaraima esteve tensa no fim de semana, quando manifestantes venezuelanos do lado brasileiro da fronteira incendiaram um posto militar do outro lado, provocando reações da Guarda Nacional Bolivariana. A situação levou o Ministério da Defesa a determinar que os militares brasileiros na fronteira negociassem com os venezuelanos, comprometendo- se a controlar os imigrantes em Pacaraima.