O globo, n. 31247, 24/02/2019. País, p. 7

 

Pós-Bebianno, bancada do PSL busca unidade

Gustavo Schmitt

Sérgio Roxo

24/02/2019

 

 

Deputados do partido procuram desviar o foco da crise política provocada por Carlos Bolsonaro, defendendo que é possível separar o que diz o filho e o pai presidente; parlamentares novatos ainda tentam criar discurso único

Apesar de cautela nas declarações públicas, parlamentares do PSL têm se mostrado incomodados com as interferências dos filhos do presidente Jair Bolsonaro em assuntos do governo. O maior foco de descontentamento se dirige ao vereador Carlos Bolsonaro, pivô da demissão do ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Parte dos deputados da bancada na Câmara acredita que os filhos do presidentes ainda trarão problemas.

Depois do desgaste do episódio que derrubou Bebianno, chegou a ser divulgado que Carlos voltaria ao Rio para tocar o seu mandato de vereador e deixaria de opinar nas questões do Planalto. Porém, na quarta-feira, Bolsonaro postou uma foto do vereador em sua conta no Instagram com a mensagem: “Seja sempre bem-vindo a Brasília. Bom trabalho no Rio de Janeiro.” Carlos postou a mesma foto dizendo que, ao contrário do que dizem os jornais, “não sumiu de Brasília” e que continuará a visitar o seu pai presidente.

"Pequeno desconforto"

Formada na sua maioria por novatos, abancada do PSL é difusa. Diante da crise, a ala mais conservadora do partido se manteve fiel aos filhos do presidente. Para um outro grupo, porém, as interferências têm provocado um mal-estar desnecessário.

— O governo mal começou, e estamos em fase de adaptação. Os filhos devem se acomodar naturalmente. Uma coisa é ser o filho. Outra coisa é a presidência. É uma acomodação de todas as partes. Mas isso não me incomoda —afirma o senador Major Olímpio (PSL-SP). O deputado Bibo Nunes (PS L- RS) diz que é preciso cuidado comas regras do cargo.

—A liturgia tem de ser respeitada. Acho que seria melhor que ficasse no âmbito familiar. Mas, no caso do Bebianno, o Carlos agiu como filho e não como parlamentar. E ele estava certo. É o filho mais próximo — avalia o deputado. Deputada estadual mais votada em São Paulo ejá com um histórico de críticas ao partido, Janaina Paschoal acredita que os filhos agiram sob impacto do drama que o pai vivia:

—O presidente sofreu um crime grave, passou por todas essas cirurgias, os filhos, principalmente o Carlos, querem proteger o pai. Aos poucos, vão superar o trauma e tudo ficará bem. Ela defende também a necessidade de desvincular os filhos de Bolsonaro.

— Não é possível seguir compreendendo que o que um filho diz ou faz tem a ver com o pai —completou. O deputado Coronel Chisóstomo (PSL-RO) minimizou a influência dos filhos e se refere à verborragia de Carlos na internet como “um pequeno desconforto”.

— Acho que isso é uma questão familiar. Entendo que tem pouca influência. Houve um pequeno desconforto, mas nada que venha a prejudicar o andamento dos trabalhos na Câmara. Afinado com ala ideológica do PSL, o deputado Luiz Philippe Orleans e Bragança nega que a base do partido seja afetada com as manifestações dos filhos. Para Bragança, apenas “uma parte” da sociedade, além da imprensa, interpreta a voz dos filhos como se fosse do presidente.

— Se eles fossem nomeados pelo pai, poderia se interpretar dessa forma. Como políticos, eles podem falar o que quiserem. O partido está muito unido.